segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O fim do ano e o fim do mundo

















O FIM DO ANO E O FIM DO MUNDO

O neto tinha ido buscar sua avó, para a comemoração da passagem do ano. Eles vinham felizes, conversando; o neto dirigindo e a sua avó ao seu lado. A estrada estava tranqüila, havia pouco movimento naquela hora da noite.

- Vó, desde que eu me entendo de gente, todo ano dizem que o mundo vai acabar, mas nunca acaba. No tempo da senhora era assim?

- Não, eles diziam que o fim do mundo só chegaria quando a gente morresse. Agora, pra mim, eu acho que o mundo vai acabar ainda este ano.

- Por que a senhora diz isso?!

- Porque, você passou direto pelo aviso que dizia:”Cuidado, precipício a 100 metros!”

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Um conto quase de Natal













UM CONTO QUASE DE NATAL

Pela rua deserta, ele caminhava solitário. Garrafa na mão e muitas desilusões sobre as costas. Divisou a alguns metros, sob a luz tênue do poste, um cão comendo alguma coisa não identificada.

Aproximou-se do animal e lhe perguntou:

- O que comes, cão?

O cão nem deu bola ao que ele lhe perguntara e continuou a comer. Novamente, ele perguntou:

- Oh, animal infeliz, o que estás a comer, miserável?

Então o cão levantou a cabeça e respondeu:

- Não sabes tu que hoje é Natal?

Ele ficou pensativo por alguns instantes e depois falou para o cão:

- É, eu sei que hoje é Natal, mas o que eu perguntei foi o que tu estás a comer com tanto apetite.

O cão, que havia voltado à sua mastigação, parou e disse:

- Pois eu vou te dizer - estou comendo as tuas melhores recordações, pois nem com elas, tu conseguiste te levantar dessa merda em que tu te meteste. Vou comê-las todas e não sobrará mais nenhuma para quando quiseres te lembrar delas. Aí, tu lamentarás ter nascido nesse dia, aliás, dia esse tão hipócrita e cínico de tua sociedade, que nem nós, cães, suportamos. É por isso, que estou comendo o que tu não deste valor nenhum. Agora cai fora que não posso parar, tenho mais lembranças, de outros idiotas como tu, pra comer ainda hoje.

O homem saiu, deixando para trás tudo que havia construído anos após anos. Uma leve névoa tomou conta da noite e não se pôde ver mais, nem homem, nem cão e, tampouco, nenhuma lembrança de que aquele dia era Natal.

sábado, 20 de dezembro de 2008

The grandstand




















THE GRANDSTAND

Ele deixou a porta aberta e ela entrou. Seria pra sempre, pensava ele, mas ela nem tanto.

Calou-se e não recitou uma palavra sequer de nenhum de seus versos, para não cair em tentação, outra vez.

Ela procurou suas meias em meio ao escuro, sem sucesso. Suas meias ele havia queimado na luz do sol, esse abajur silencioso que a todos queima e cuja idolatria ele se subjugava.

Daquele dia, restara apenas um travesseiro manchado de vinho, - ou era sangue? - e a voz dela a dizer-lhe coisas que só os tolos poetas dizem, sem querer dizer, pois as palavras que lhes saem, são como os touros arredios de Pamplona.

Não, ele não queria que lhe dissessem que ele não estava certo. Em algum momento, ela chegaria e lhe diria isso mesmo. Ela diria que queria a eles, outra vez: certos ou não, do jeito deles, mas ela queria os dois somente para ela.

Eles e ela novamente! Ele nem podia acreditar. Tudo voltou, inclusive, a torneira a jorrar na pia sem parar. Era um barulho surdo dos ratos, dançando nos dutos casa afora. Era, sem dúvida, uma melodia nada peculiar às noites de sexo que eles tiveram ao longo do tempo em que ficaram juntos pela primeira vez.

Agora, ele deixaria que os milhões de “Eus” jorrassem para dentro delas, das duas e, nunca mais, nenhuma latrina lhe mostraria o caminho de volta a sua ignóbil juventude, repleta de nãos, nãos e muitos talvez.

Ele já comprara os bilhetes e, agora, esperava que elas lhe desejassem sorte. Seria dada largada. Aquilo era mesmo um Grandstand.

A corrida iria começar. Este seria o terceiro páreo dos três. Era um para ele e dois para elas duas.

A cama, o lençol, a garrafa de vinho e muito, muito gemidos de gozo que ele sabia, o vento levaria por toda aquela noite para dentro dos ouvidos do mundinho hipócrita lá fora.

Quem sabe ele venceria por um corpo inteiro.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Um conto quase de horror

















UM CONTO QUASE DE HORROR

O lugar era mal iluminado, quase lúgubre.

Terêncio estava ali, todo sujo. Havia corpos espalhados ao seu redor. A sua frente, restava apenas um, quando o delegado chegou...

- Nossa! Você é mesmo um insaciável! Quantas você comeu?

- Mais de 15!

- Puta merda! O que você fez com as cabeças?

- Taqui as cabeças, eu nem as toquei, Delegado!

- Meu deus! Você é mesmo um animal!

E lá de dentro alguém gritou...

- Delegado, acabaram as sardinhas, só tem caranguejo agora!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Um conto quase erótico
















UM CONTO QUASE ERÓTICO

Na sala... As pernas arqueadas; uma aparente rigidez, apesar do passar dos anos e do uso. Ela senta devagar... Um gemido... Os dois caem! Mulher e cadeira.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Um conto econômico

UM CONTO ECONÔMICO
- Olavo! Quanto tempo!
- Tudo bem, Gonçalo?
- Tudo, meu amigo.
- Quantas coisas ficaram prá trás, não é mesmo?
- Pois é, pois é... Naquela época, nada parecia ser tão importante, imprescindível pra nós, e agora...
- Eu sei...
- A propósito, Olavo, afinal, hoje, o que é que você acha que existe acima de nós todos?
- O imposto de renda, meu amigo. O imposto de renda!

sábado, 13 de dezembro de 2008

Marina De La Riva!


Amor a primeira vista é isso: você ouve e logo gama - tô mesmo velho!

Assim foi, quando ouvi pela “prima volta” esta voz, pequena é certo, mas tocante. Daquelas que vai fundo, fundo até que se impregna para sempre em nossos ouvidos, corpo e alma. Que bom ter descoberto essa maravilha de intérprete que é Marina De La Riva, fluminense de Campos de Goytacazes, RJ. Ela tem um pé em Cuba, claro; pai cubano e mãe mineira, uai. Uma mistura de fazer gosto, sô. É como se fosse um recheado de docinho leite com rum.
Se rapazinho eu fosse, há esta hora, eu estaria aonde o sol brilha, ou seja, onde De La Riva canta. Confiram!
* Uma correção: Marina nasceu num hospital no Rio de Janeiro, em 7 de abril 1973, mas viveu toda infância e adolescência em Baixa Grande de Leopoldina distrito de Campos.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

60 Anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos



























Foi com esse cartaz, que eu e o Diretor de Arte, Ricardo Luís Andrade, velho amigo meu, participamos do concurso comemorativo dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

domingo, 30 de novembro de 2008

O último Chinese Noodles de Ozne o roqueiro drogado de New York












O ÚLTIMO CHINESE NOODLES DE OZNE
O ROQUEIRO DROGADO DE NEW YORK
Por Hélio Jorge Cordeiro

Fazia muito frio aquela noite, daqueles de cortar o próprio frio. Ao longo da avenida, dos bueiros, iguais àquele onde, certa vez, num de seus filmes, a loira sex simbol dos americanos, Marilyn Monroe, esquentara a calcinha, saíam vapores quentes que mais pareciam vindos de chaleiras ensandecidas.

Simon levantara-se cedo. Aquele seria o dia D de sua vida. Iria assistir ao show do grande Ozne! Olhou para o caderninho de telefones e não encontrou nenhuma companhia para ir com ele ao evento. Lá, no caderno, só números de pizzas deliveries. Suspirou, lamentando seu isolamento.

Simon Irvine tinha tudo que se relacionava com o roqueiro mais drogado da história do rock: todos os discos; todos os bottons; todas as revistas e uma relíquia:... Uma camiseta surrada e ainda com marcas de vômito do roqueiro. Nela, estava estampada a figura de Ozne Kubenkian, descabelado e com os olhos saltados para fora e estava escrito  o seguinte: “I LOVE OVERDOSE MOM!” Simon havia pagado uma grana preta pela camiseta. Empenhara todas as suas economias de um ano de trabalho duro no restaurante do velho Shao Zin-Zong, na Canal Street com a Mulberry Street. Simon entregava chinese noodles por toda Nova York. Agora, ele queria que o astro a autografasse a suja e surrada camiseta.

Tudo pronto. Simon respirou fundo, deixou seu pequeno quarto numa pensão para jovens que trabalhavam part-time e ganhou a rua, se equilibrando em sua bike em direção ao Teatro Phenix, na 47th Street West com a 8th Avenue.

Tempos depois, Simon chegou, finalmente, ao Phenix. Ele foi direto para o beco ao lado oposto da entrada do teatro que, muitos anos antes, havia recebido Fred Aster, Ginger Rogers, Bob Hope e tantos outros, sempre com sucesso; A velha casa de shows iria se transformar em uma igreja evangélica. O show de Ozne seria o último espetáculo da história do velho teatro.

Simon encostou a bike. Três bichanos pularam de dentro de uma caçamba de lixo, apavorados com a sua presença. Simon trancou a bike com um velho cadeado que ganhara de sua avó Jezebel e que fora um suvenir do primeiro furto de seu avô Elijah. O velho cumpria prisão por venda ilegal de whisky lá no Alabama.

Simon se dirigiu à frente do teatro. Estava lotado. Logo o  roqueiro chegou à rua principal, foi ovacionado com gritinhos histéricos de garotas e rapazes que se amontoavam em frente à entrada da casa de espetáculo: Ozne!
Ozne! Ozne.

Com muito esforço, Simon tentou se aproximar. – My godness! It is him!
Ozne vinha ladeado por enormes seguranças. Simon avançou para falar com ele, mas o roqueiro o repeliu, jogando-o nos braços dos brutamontes que o protegiam. Os guarda-roupas deram-lhe um safanão, jogando-o em cima de Lucy Catisallright, uma mocinha que tinha vindo do Alabama para assistir ao show.

Os dois caíram estatelados do outro lado da calçada, batendo suas cabeças no guard-rail que protegia a esquina do edifício. Ambos desmaiaram!
Em menos de 15 a 20 minutos, todos que estavam do lado de fora do teatro, haviam entrado para assistir a imperdível apresentação do roqueiro drogado.

A entrada já havia sido trancada e ninguém entrava mais no teatro. Agora, restava apenas o vento frio e cortante do inverno, que chagara mais cedo à cidade, espalhando os panfletos do show, inclusive, os dois ingressos de Simon e de Lucy. Os dois jovens, ainda atordoados pela pancada recebida, logo se deram conta de que o show havia acabado para eles.

Sentados no chão da esquina do teatro, desolados e tristes, um olhou para o outro e se apresentaram: - I’m Simon. – I’m Lucy from Alabama.
Oh my goodness, my granny and my grandfather live in Alabama!

Três horas mais tarde, Lucy e Simon estavam exaustos, depois de uma sessão de sexo, pizza e muita coca-cola.

Lá embaixo, num velho tonel, perto da entrada da pensão, tudo que Simon juntara sobre Ozne Kubenkian, ardia no fogo, inclusive a camiseta que dizia: I LOVE ORVERDOSE MOM.

Lucy voltou pro Alabama, levando uma cartinha de Simon para seus avós, dizendo que logo que pudesse ele voltaria pra lá.

Ozne morreria dois dias após o show, vitimado, segundo as autoridades, por uma longa sessão de orgia e, também, por ingestão de chinese noodles que, segundo a perícia policial, estava envenenado.

Não muito depois desse trágico evento para o rock mundial, Simon viajou para o Alabama, para junto de seus avós e, é claro, para ficar com Lucy Catisallright. Ele nunca mais voltou a entregar chinese noodles em Nova Iorque.

domingo, 23 de novembro de 2008

S. O. S - ITAJAÍ - S. O. S



Eu faço um apelo para que ajudem a população do litoral Norte de Santa Catarina! As chuvas continuam ininterruptamente em todo litoral, principalmente no Vale do Itajaí onde chove há mais de 5 dias!


Por favor ajudem!

sábado, 22 de novembro de 2008

Um ponto negro sob um céu cinza


















UM PONTO NEGRO SOB UM CÉU CINZA

Lá ia ele, de um lado da rua
Roupa acetinada,
Preto, retinto, um luto só.
Esqueleto de aço! Diriam conhecedores.
Madeira de lei ao cabo.
Sombreando, por onde passava.
Vento forte de reverso, a luta insana.
Nenhum tombo; a salvo, pois
Centrado como ninguém.
Seguiu firme sobre a tormenta
Diria um poeta”...a rain of umbrellas falls over our heads.”
Foi indo o Guarda-chuva
Solitário e corajoso.

Um ponto negro sob um céu cinza.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Pernambuco e Rio Grande do Sul

Durante a 54ª Feira do Livro de Porto Alegre, RS, o jornalista Fábio Gomes escreveu como o seu confrade pernambucano, Paulo Santos, recuperou a memória da Revolução Pernambucana de 1817:


"O jornalista pernambucano Paulo Santos afirmou, em debate realizado na 54ª Feira do Livro de Porto Alegre no domingo, 9 de novembro, que decidiu escrever sobre a Revolução de 1817 ocorrida em Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte na forma de um romance histórico, que intitulou A Noiva da Revolução, porque esta era sem dúvida a melhor forma de transmitir a beleza da história desse movimento, inteiramente desconhecido do público atual. Seu companheiro de mesa, o escritor gaúcho Alcy Cheuiche, autor de diversos romances históricos, defendeu este gênero literário, juntamente com o cinema, como eficientes popularizadores da História, embora saiba das restrições feitas por historiadores:

- O próprio Exército francês apontou um capítulo do romance Os Miseráveis, de Vitor Hugo, como a melhor descrição da batalha deWaterloo, superando a infinidade de livros de historiadores que também trataram do tema.

Santos não demorou a descobrir as causas do quase completo esquecimento da Revolução, vista apenas de passagem nas aulas de História do Ensino Médio: foi um movimento que propunha, há quase 200 anos, a abolição da escravatura, a República, a igualdade entre todas as pessoas e a participação política das mulheres - este último item nem a Revolução Francesa ousara propor, em 1789. Por ser a primeira afronta direta à autoridade do monarca português desde a criação do reino de Portugal, no século 12, a memória da Revolução de 1817 foi abafada durante todo o período do Império (a família real brasileira descendia da portuguesa). Só com o advento da República sua história começou a circular mais amplamente, inclusive com a comemoração de seu centenário em 1917. Mais adiante, porém, o Estado Novo, ao pretender o Brasil um país unitário, cerceou o espaço para liberdades regionais ou sua lembrança, deitando novamente sobre o movimento uma sombra da qual ele só saiu quando do lançamento do livro de Paulo Santos, no ano passado.

Depois disso, rapidamente o tema voltou à ordem do dia: o governador Eduardo Campos decretou como Dia da Bandeira de Pernambuco a data de 2 de abril, como referência à criação da bandeira revolucionária, que segue sendo usada pelo Estado de Pernambuco. Em votação popular, o dia 6 de março, data do início do movimento, passou a ser o feriado de data magna do Estado. Além disso, Santos tem feito várias palestras sobre o tema para professores de História - e até para os integrantes do centenário Maracatu Leão Coroado, pois já havia se perdido no tempo a referência de que seu nome de batismo homenageava José de Barros Martins, um dos líderes da revolução, apelidado de Leão Coroado por ter cabelo comprido, menos na parte superior da cabeça, calva. Outro ponto digno de nota é que, em sua pesquisa, Santos encontrou vários textos de historiadores analisando aspectos ou conseqüências do movimento, mas não uma cronologia estabelecendo a seqüência correta dos fatos; elaborou uma e incluiu-a na obra.

A revolução iniciou porque o brasileiro Domingos José Martins, nascido no Espírito Santo, queria se casar com Maria Teodora, filha de um comerciante português estabelecido no Recife, que era contra a união. Maria tinha 17 anos em 1817 e namorava Domingos desde os 13. O livro de Santos tem duas linhas narrativas: a de Domingos, através de seu diário, e a de Maria Teodora, através das observações que faz sobre o diário do marido (é a Maria Teodora que Santos recorre ao escrever sobre episódios não totalmente esclarecidos, que desta forma aparecem como opinião da personagem). O casamento de ambos, uma semana após o início da revolução, também era em si revolucionário, ao ser uma união por amor numa época em que os pais, atendendo seus próprios interesses, é que escolhiam com quem os filhos se casariam. A união durou pouco, porém: Domingos foi preso e executado ao final do movimento, que durou 74 dias. Maria Teodora manteve-se viúva por três anos, até casar novamente com um marido com quem teve 27 filhos.

Cheuiche viu muita semelhança nos ideais da Revolução pernambucana e na Revolução Farroupilha, deflagrada no Rio Grande do Sul em 1835, que também teve uma célebre história de amor: a de Anita e Giuseppe Garibaldi. A catarinense Anita abandonou o marido para unir-se ao italiano Garibaldi, lutando ao lado dele em dois continentes - na Europa, tinham como causa a unificação da Itália. Outra ligação entre os movimentos é uma curiosidade: no Rio Grande do Norte, os revoltosos perderam o controle de Natal para os portugueses e transferiram sua sede para o interior, adotando o nome de República de Porto Alegre (porque, por coincidência, a cidade escolhida para capital tinha o mesmo nome da capital gaúcha). Cheuiche lançou a idéia de realizar um simpósio entre estudiosos gaúchos e pernambucanos para estudar as semelhanças entre os dois movimentos revolucionários.

O fato mais curioso levantado por Santos liga o ex-imperador Napoleão Bonaparte ao movimento pernambucano. O embaixador da República de 1817 nos Estados Unidos, Cruz Cabugá, queria aproveitar a experiência de soldados franceses exilados na América do Norte e propôs o seguinte: eles iriam para Recife lutar com Domingos Martins e Leão Coroado, e em troca um destacamento pernambucano iria libertar Napoleão na ilha de Santa Helena! Apenas quatro soldados aceitaram a proposta, mas nenhum navio chegou a sair para Santa Helena porque os franceses só chegaram ao Recife quando a revolução já havia sido derrotada e eles foram imediatamente presos."

domingo, 16 de novembro de 2008

O destemido Capitão Benjamin



















O DESTEMIDO CAPITÃO BENJAMIN

O decrépito sobrado se situava na parte mais elevada da cidadezinha. Lá do alto, Benjamin gritava a todos os pulmões: - Içar velas, marujos! Sua voz aguda ressoava por todos os cantos do lugar. Isso ocorria todos os dias; dia e noite: - A bombordo! Vamos lá, seus preguiçosos de uma figa! – Desenrolem a bujarrona! Cuidado com o gurupés! Benjamin, não parava. As pessoas que por lá passavam não mais ficavam surpresas ao ver o “capitão” comandar a sua nau como um verdadeiro lobo do mar.

Algumas senhoras que voltavam do rio, onde tinham lavado suas roupas, riam para valer e ainda davam corda pro grande navegador: - Capitão, qualquer dia desses vamos a bordo! Ao que ele respondia: - Só se for pra lavar o convés! O mulherio ia embora rindo da sandice do pobre Benjamin.

Não fazia muito tempo, ele ainda atinava coisa com coisa, mas, aos poucos, foi perdendo o eixo, confundindo fantasia e realidade. Da noite para o dia, começou a viver achando ser ele um simples marujo. Com o tempo, não se sabe como, ele deu a si mesmo a patente de Capitão. Vivia sozinho. Era filho único. Seus pais, muito velhos, haviam morrido quando ele era rapaz. Benjamin se cuidava sozinho. Como um dependente que não tem responsabilidades legais, vivia da pensão de seu pai que fora juiz na comarca vizinha. Quando sua mãe morreu, Benjamin começou a receber ajuda das pessoas da cidade. A população se acostumara com a idéia de que, para ele, sua casa era um navio e a cidade o oceano que distava do lugar 1300 quilômetros.

Certa manhã, o dia nasceu cinzento. O sol não deu as caras. Nuvens pesadas se acumularam por trás da serra vizinha à cidade. De uma hora pra outra, o céu enegreceu e começaram os trovões e relâmpagos. Benjamin, lá do alto de sua “gávea” engrossava a voz anunciando tempestade. Alertando seus “marinheiros” para tomarem as providências que um navio precisaria para enfrentar o mau tempo que se aproximava. Não demorou, a chuva despenhou-se sem pedir licença ou permissão. Desceu grossa como se fosse queda de cachoeira. O rio que cortava a cidade foi o primeiro a sentir a tromba d’água que se precipitara de repente, correndo em caudaloso volume. Arrastando tudo que encontrava pela frente.

Benjamin não parava de gritar: - Vamos lá seus idiotas! Vão querer ir pra prancha! Movam-se! Continuava ele, sobranceiro, todo garboso movendo um timão invisível. Não se incomodava com a chuva que lhe molhava todo o corpo com a ajuda do vento forte. O “capitão” Benjamin levava sua nave na borrasca, com segurança, através de um mar bravio de ondas traiçoeiras.

A chuva não parou nem um momento, pelo contrário, se intensificou mais ainda! A população começou a sentir o efeito da catástrofe que se anunciava. - O rio transbordou! A água se acumulava nas ruas e subia a olhos vistos. Logo estariam inundados até o pescoço. “Salvem o que puderem”, era a tônica mais ouvida pelas ruas naquela hora de desespero.

Choveu o dia todo; a noite toda; o dia seguinte e mais outro, até que, no quarto dia, o que não ficou submerso da pequena cidade, foi a parte superior do sobrado de Benjamin. E foi exatamente lá, onde parte da população se abrigou e conseguiu sobreviver ao dilúvio!

Não se sabe bem quantos pereceram embaixo d’água ou foram levados pela correnteza para dentro do rio. O que se sabe é que, quem conseguiu sair vivo da chuvada, foram aqueles que confiaram na mão firme do grande timoneiro Benjamin, que com a sua “embarcação” conseguiu salvar muitas vidas.

Ninguém esqueceu daquele dia trágico e de Benjamin que, depois que morreu, ganhou uma estátua na praça, digna de um verdadeiro senhor dos mares, que foi construída no lugar do velho sobrado e que ganhou o seu nome: Praça Capitão Benjamin.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O caçador de bibas
















O CAÇADOR DE BIBAS


Raimundo acordou assustado com o barulho no andar de baixo. Filhos da puta! Não agüentaria mais um dia naquela espelunca. Desempregado, decidira arranjar um trabalho melhor do que empacotador de supermercado. Contudo, resignara-se ao pensar que só tinha o primeiro grau. Porra! Que vidinha de merda!

Tinha vindo a mais ou menos dois anos do Crato, Ceará, para São Paulo. E tudo que havia sonhado, começava a se desmoronar aos seus pés. Isso só podia ser coisa feita! Pensou com revolta.

Levantou-se e foi mijar. O encardido e as manchas de ferrugem na bacia do minúsculo banheiro revelavam seu declínio como pessoa. Sua imagem refletida na água mijada, não lhe agradou nenhum um pouco. Porra! Ainda por cima eu sou feio pra caraio! Pensou ele. Não encontrou a escova de dentes no lugar onde havia deixado na manhã anterior. Também isso não importava muito; não havia mais pasta fazia mais de três dias. Estava usando um resto de sabonete para limpar o que restara de dentes na boca.

Vestiu-se e saiu da espelunca. Porra! Tenho que fazer uma coisa que me faça um cara bem sucedido, senão voltarei pro Ceará como um fracassado! Como iria encarar o Padin Cíço, mesmo este estando no Juazeiro? Mas lá de cima ele podia ver tudo. Situação difícil.

No caminho, parou em frente a um botequim e pediu uma média com leite. Enquanto bebia e comia, olhava pro espelho em frente. O que vou fazer?! Ah, já sei! Pagou a conta e saiu.

Começou a perambular todo o centro, até que escureceu. Atravessou a rua e entrou num beco e bateu direto numa pequena barbearia, que mais parecia uma casa de gnomo. Aliás, tinha o tamanho de um mausoléu, daqueles de gente fina, que estão à vista no cemitério da Consolação.

Entrou e encontrou o velho barbeiro dormindo com um jornal de esporte, cuja data não parecia ser desse século, jogado no colo. Raimundo sacolejou o homem que acordou assustado de navalha em punho e muito próxima à jugular do intruso. Raimundo recuperou-se do susto e pediu para que o velho desse um trato no pêlo.

Preparado para o trabalho e com um pequeno e sujo pano amarrado ao pescoço, Raimundo relaxou. O homem começou a manejar a tesoura demonstrando muita habilidade. A tremedeira nas mãos era disfarçada com o mastigar da tesoura. Trec, trec, trec!

Raimundo adormeceu e, o pior, o velho também! Tomado pelo madorna, o velho criou uma rede de vias e variantes dignas de qualquer cidade grande, sobre a cabeça do pobre Raimundo. O rapaz acordou-o e olhando-se no espelho gritou: Porra, seu velho idiota!

Sem ver mais saída para o trabalho de terraplanagem feito em sua cabeça, Raimundo pediu para que o imperito desse cabo de todo cabelo que tinha restado sobre sua cabeça. O velho, ainda tomado pelo sono eterno que se abatia sobre o corpo curvado que a idade lhe impunha, passou a máquina e, em segundos, não havia mais nada a cortar. Velho filha da puta! Raimundo pensou e, só depois é que pagou e saiu revoltado.

Quando ele chegou na rua principal encontrou um grupo de skinheads que logo o abordaram! Puta que pariu! Tô fudido! Ele havia ouvido falar desse pessoal, principalmente de que eles não gostavam de negro, nem muito menos de nordestino e, de lambuja, também não de homossexuais.

Um sujeito com cara de chihuahua o abraçou forte. Vamos acabar com essa corja de nordestinos, bichas e negros, mano! Isso é um cancro! A lama que mancha Sampa, meu!

Raimundo olhou pro resto do pessoal que esperava dele uma resposta e, finalmente, disse com todo gosto: Vamos acabar com essas bibas, esses neguinhos e... esses cabeça chatas, mano! Ouviu-se uma gritaria dos diabos. Levantaram-no do chão em efusiva comemoração. Quando se acalmaram os ânimos, um dos skinheads perguntou: - De onde tu é, mano? Eu? Sim. Sou daqui mesmo num tá vendo o meu sotaque? Pô, como eu num tinha sacado isso, mano! Paulistano na boa! Qual o teu nome? Meu nome? Assustado, Raimundo pensou: Arriégua e agora? Se falar que sou Raimundo vão logo descobrir que sou nordestino... Ray! O quê? Ray, meu nome é Ray! Isso é nome de negão, meu! Raimundo engoliu seco e pensou... E agora? Levantou a cabeça e respondeu: - Que nada, meu! Isso é a minha homenagem ao “firrer”, mano. O “chihuahua” o encarou: - Como assim? Raimundo levantou o braço e estendeu a mão e gritou: - Ray Hitler! O skinhead deu um sorriso largo mostrando que também não tinha uma boa quantidade de dentes e exclamou: - Legal, Ray! É isso aí, mano! Vamos nessa, irmão!

E lá se foi Raimundo, agora chamado de Ray pelos seus novos amigos. Até quando? Ninguém mais soube dizer...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O Sarau que não fomos!
















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Libras

08/11/2008


Hora: 20:30
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Local: Tenda de Pasárgada - Leito da Rua Cassiano Nascimento, entre o Memorial do RS e o Santander Cultural - Adulto

Cordão da Saideira: Sarau Benedito - Elas e Nós

Jovens poetas de Itajaí expõem seus textos ao público, numa discussão literária (acadêmica ou leiga) para conhecer um pouco mais da poesia, com emoção e vivacidade. Com Rômulo Mafra, Daniel dos Santos, Felipe Damo, Rafaello Seba, Débora O’Lins de Barros e André Pinheiro.

(dados extraídos da programação da 54º Feira do Livro de Porto Alegre)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Salmão com alcaparras e creme de maracujá













SALMÃO COM ALCAPARRAS E CREME DE MARACUJÁ

Receita por
Chef Motta - Criciúma - Santa Catarina


1K de filé de salmão
1 vidro de alcaparras 50g
1 xícara de suco de maracujá concentrado
1 xícara de creme de leite
2 colheres de azeite de oliva extra virgem
1 xícara de salsa bem picadinha
1 colher (chá) de pimenta rosa
Suco de um limão
Sal a gosto

Tempere o salmão com sal e o suco de limão.

Deixe descansar por 30 minutos.

Coloque a alcaparras sem o liquido por cima do peixe, a pimenta rosa e o azeite de oliva.

Leve ao forno moderado por 20 minutos.

Retire do forno, salpique com a salsa.

Coloque o creme ao lado do peixe pronto na mesma travessa.

Para o creme:
Coloque o suco de maracujá e o creme de leite no liquidificador e bata até formar um creme.

Acompanha: Salada de rúcula, tomate seco e manga, arroz e batata palha.

Bom apetite! Ah, sirva um vinhozinho tinto...pode ser um Merlot!

domingo, 2 de novembro de 2008

Requiem aeternam dona eis














REQUIEM AETERNAM DONA EIS

Outro dia, escrevi, aqui no meu blog, acerca de um bar lá de São Paulo que o meu amigo Pedro Evangelista me apresentou. Agora, vou falar sobre outro, que em nada se parece com o de São Paulo. Aliás, não era um bar na acepção de boteco, era um café-bar.

O tal café-bar nasceu para atender um tipo de clientela que, a meu ver, não entendeu a sua proposta. Contudo, foi conquistando outro tipo de clientela: os que queriam (ainda querem) mais uma opção pras noites da cidade.

Logo, o lugar começou a atrair os intelectuais. Claro que, no começo, não era uma unanimidade, mas, aos poucos, foi se impondo.

O famoso sarau literário denominado de Sarau Benedito, se instalou por lá às segundas-feiras e, com ele, apareceram pessoas de todas as tribos, atraídas pelo burburinho tão característico desses encontros culturais.

No meu entender, o lugar tinha um ambiente de bom gosto, tanto internamente, quanto externamente. A comida era de primeira. Os queridos cucas eram todos saídos da escola de gastronomia da Univali. A música, quando ainda não era ao vivo, era bem segmentada e atendia a todos os gostos. Depois, uniu-se à casa o melhor da musicalidade local.

Quando comecei a freqüentar o lugar, adotei uma mesa do lado de fora, a do lado direito da entrada principal. Sempre achei o lado de fora um local privilegiado pra quem gosta de observar a vida cotidiana de um burgo. Eu dava (ainda dou) tanta importância a isso, que chegava ao ponto de ficar deprimido quando encontrava a mesa ocupada por uma ou mais pessoas. Que acinte! Pensava eu, revoltado. Pegaram a minha mesa! Mas logo me acalmava e tomava o meu lugar de direito assim que o(s) invasor(es) se retirava(m). Confesso que fazia uma mentalização dos diabos para que ele(s) fosse(m) embora. Mesa limpa, pronto, lá ia eu ocupar o meu lugar de direito! Em seguida, pedia a minha tequila de sempre, servida sem sal, por causa da minha pressão alta. Continuamente, fui atendido de maneira cordial pelos seus garçons e garçonetes. - Boa tarde seu Hélio! Boa noite seu Hélio! Tudo bem, seu Hélio!

Comigo, se sentavam vários colegas para uma prosa, ou de passagem. Alguns, porque tinham me visto, sentado, marcando o meu ponto. Por um tempo, pensei até na possibilidade de mandar fazer uma estátua minha sentado, para quando eu fosse dessa pra outra. Deixaria uma carta para os donos pedindo que “me” pusessem lá na “minha mesa”... Em Portugal, o Pessoa, no Rio, o Drummond e em Itajaí, o Helinho... Desculpem, mas não resisti a escrever isso!

Sobre os donos, eles eram e ainda são pessoas muito queridas; simpáticos e gentis. Atendiam-nos a todos como devem ser atendidos os clientes, fiéis ou não de todos os estabelecimentos comerciais. Ainda fui visitá-los lá em Piçarras, onde fizeram funcionar um pequeno restaurante numa daquelas marinas que existem por lá. Boa gente eles!

Mas como tudo na vida tem a hora para terminar, o lugar que, se tivesse demorado mais um tempo funcionando, faria de Itajaí um lugar melhor no que diz respeito à pluralidade de idéias e gostos, finalmente, fechou suas portas.

Quando a notícia me chegou, não acreditei. Então fui tomar “satisfações” com os donos. Isso é impossível! Como podem?! Claro que não falei nada disso pra eles. Dias antes do fechamento das cortinas, conversamos. Eles sentaram comigo como se sentam os amigos ou parentes para explicar o porquê da morte súbita do doente. Tiveram todo o cuidado para não me ferir os sentimentos. Eu ouvi tudo contristado. Por fim, tomei a palavra e lamentei que a cidade tivesse que ficar com apenas uma opção. No fundo, eu queria dizer “eu tinha ficado com apenas uma opção” para meus actus etilicus de cada dia. Não podiam fazer mais nada. Estava tudo consumado! Tinham o dia e a hora marcada para o inevitável e triste final.

O lugar, enfim, morreria! Mas ainda tive coragem para dizer adeus ao futuro defunto, na sexta feira, dia em que os donos ofereceram uma festa aos viúvos e viúvas, como se fosse uma espécie de velório baiano. Nessa noite de despedida, pra lá acorreram todos; alguns lamentando tanto quanto eu; outros nem tanto assim. Terminado o “velório”, haviam bebido tudo! Até a última gota de chope e cerveja. Aos poucos, foram todos embora, restando apenas os entes queridos, ou seja, Juna e Gustavo, os seus funcionários, incluindo seu José, o vigilante, além de Belinha, a cachorrinha. Recolheram as coisas do lado de fora, apagaram as luzes e fecharam as portas.


Na segunda-feira, que pra mim parecia uma quarta-feira de cinzas, masoquista, resolvi passar na frente e senti uma dor doída de quem perdeu alguém. Mas como dizia o Nelson Ned “(...) Mas tudo passa tudo passará. E nada fica, nada ficará. (...)” e mais recentemente, o Lulu Santos, “(...) Tudo passa, tudo sempre passará (...)”. O café-bar passou, mas ficaram as pessoas que dele gostavam e, todas as vezes que elas falam sobre um barzinho, logo se lembram do Aldeia Bistrô.

Reflexão V



















REFLEXÃO V

Quanto mais vocês pensam isso de mim, mais eu penso o mesmo de vocês!

sábado, 1 de novembro de 2008

O meu livro vermelho ou Só para lembrar que ainda existo!















Só para lembrar que o livro O Suicida está disponível em: São Paulo na Livraria Cultura do Conjunto Nacional e na Livraria Martins Fontes da Paulista. (Vocês também podem acessá-lo, através dos sites de ambas livrarias!
Nas Livrarias Catarinense e Curitiba:
Em Itajaí-SC: Casa Aberta, Livraria Época, Revistaria do Angeloni e na Revistaria do Shopping Itajaí.
Em Balneário Camboriú: Café e Leitura (Shopping Atlântico) Livrarias Catarinense (Shopping Balneário Camboriú)

Todos sem exceção!




















"1 DE NOVEMBRO: FERIADO RELIGIOSO EM QUE SE PEDEM OS "BOLINHOS"


A 1 de Novembro comemora-se o dia de "Todos os Santos". Em Portugal, nas grandes cidades, as pessoas vão ao cemitério arranjar as sepulturas dos seus entes queridos que já faleceram, com flores, que por tradição nesta altura do ano são crisântemos, já que no dia seguinte se comemora o "Dia dos Fiéis Defuntos". Porém na maioria das aldeias portuguesas, o dia de Todos os Santos é sinónimo de "bolos dos Santos" , "castanhas e água pé". Apesar de as tradições populares em Portugal tenderem a sofrer transformações, os leitores lembram-se, certamente, de neste dia logo pela manhã irem em grupos de crianças, de porta em porta, pedir os "santinhos" ou os "bolinhos" pela alma das pessoas que já partiram...
A festa do dia de Todos-os-Santos é celebrada em honra de todos os santos e mártires, conhecidos ou não. A Igreja Católica celebra este dia Santo a 1 de Novembro, seguido do dia dos fiéis defuntos a 2 de Novembro.


O dia de Todos-os-Santos foi instituído com o objectivo de suprir quaisquer faltas dos fiéis em recordar os santos nas celebrações das festas ao longo do ano. Esta tradição de recordar (fazer memória) os santos está na origem da composição do calendário litúrgico, em que constavam inicialmente as datas de aniversário da morte dos cristãos martirizados como testemunho pela sua fé, realizando-se nelas orações, missas e vigílias, habitualmente no mesmo local ou nas imediações de onde foram mortos, como acontecia em redor do Coliseu de Roma. Posteriormente tornou-se habitual erigirem-se igrejas e basílicas dedicadas em sua memória nesses mesmos locais.

O dia de "Todos os Santos" para todos os que nasceram fora de grandes cidades, leva-nos à memória, as crianças com uma "sacola" de pano, em grupos, indo de casa em casa nas aldeias, pedindo às pessoas, e elas a darem o que querem ou podem, como por exemplo: dinheiro, maçãs, romãs, castanhas, rebuçados, nozes, bolos, chocolates etc.

Antigamente todas as crianças dos meios rurais iam pedir os "santinhos". Normalmente as pessoas punham as mesas com o que tinham em casa (comida e bebida) e quando chegavam as crianças eles entravam e comiam à vontade e à saída ainda lhes davam alguma coisa. Hoje já só se pedem os "santinhos" ou os "bolinhos" para não se perder a tradição. É costume neste dia, nos meios rurais as pessoas confeccionarem broas de milho e outros bolos caseiros para comerem e darem."


Matéria estraída do O Imigrante / Mundo Português

Terça-Feira, 30 Outubro de 2007

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Parabéns Mineirinho!






















Se vivo fosse, o poeta faria neste 31 de Outubro, 106 anos.


POEMA DE SETE FACES

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.



Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O Escafandro e a Borboleta

"Jean-Dominique Bauby (Mathieu Amalric) tem 43 anos, é editor da revista Elle e um homem apaixonado pela vida. Mas, subitamente, tem um derrame cerebral. Vinte dias depois, ele acorda. Ainda está lúcido, mas sofre de uma rara paralisia: o único movimento que lhe resta no corpo é o do olho esquerdo. Bauby se recusa a aceitar seu destino. Aprende a se comunicar piscando letras do alfabeto e forma palavras, frases e até parágrafos. Cria um mundo próprio, contando com aquilo que não se..."


Não percam em breve no Cine Cubancheiro

http://video.movies.go.com/thedivingbellandthebutterfly/main.html

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Reflexão IV


















REFLEXÃO IV

A pior coisa do mundo é não ter nada o que fazer quando se tem tudo ainda por dizer.

domingo, 26 de outubro de 2008

Reflexão III


















REFLEXÃO III

Hoje, no Brasil, não se separa o joio do trigo, primeiro porque dá trabalho e depois por que juntos dão mais lucro.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Pequeno curto
















PEQUENO CURTO


Ela pintava e bordava. Pintava mais que bordava. Bordava menos que pintava. Traquinas ela era. Dava pras cores. Lambuzava-se. Melava-se. Tintas da cintura aos pés. Olhava-se depois no espelho. Azul; Verde; Lilás. Rosa. Que Rosa? A rosa rosa, não a vermelha, mas a rosa.

Pintava o sete. Também o oito. Sabia ler, escrever então. Sabia. Sabia? Qualquer um que chegasse. Pintava e sabia.

Com quem andava ela? Comigo, contigo. Com eles, ora! Tinhas os pés descalço, tu lembras? Sapatos? Todos. Vergonha? Nenhuma. Bendita seja.

Sozinha ia para a missa. Que missa? A missa. Aquela que hora se esvai e vai. Ninguém sabe quando. Não chora. Não mia. Mia? Sim. Tomada de desejo. Tomava o desejo. Bebia. Tomava. Bebia. Foi-se então embora. Embora fosse só. Apenas a mãe de um amigo. Vivera a mãe. Nunca mais voltara. A mãe? A mãe.

Chegou! Cagara certa vez. Igual. Parece que sim. Sim parece.
Vamos menina. Pra sua casa. Lá é a terra prometida. Nem casca, muito menos ferida. Ferida? Sim. Combalida, mas viva. Então viva.

Vamos comemorar, então.

domingo, 19 de outubro de 2008

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Cênicas palavras


















CÊNICAS PALAVRAS

Você, a palavra.
Sempre você.
Loucuras: chagas abertas.
Desvarios cósmicos
Entre estrelas fugidias.
Astros e ácaros em festa
Tudo em um fio a
Deslizar em rolos bambos.
Lágrimas doces em marolas.
Fecham-se as latas em cortinas
Nos breves e bravos aplausos.
O ator, a atriz
O público, você,
O Teatro funcionando.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Mais uma ode para Italo Bianchi


Quero falar não de sua morte, acontecida no dia 5 de outubro próximo passado, mas de quem foi esse italiano, milanês, que decidiu viver em minha cidade de nascimento, Recife.

Contar quem foi Ítalo é um tanto complicado, pois Italo era muitas coisas. De tudo um pouco, ele conseguiu ser. Desde o mais culto dos sujeitos, ao mais simplório, principalmente, nas conversas banais sobre o cotidiano.

Italo, quando chegou a Recife, não chegou de mãos vazias. Ele trouxe com ele sua delicadeza, sua retidão profissional e, somada a isso, uma pesada bagagem cultural e profissional, que iria mudar a cara da propaganda no Estado de Pernambuco. Pode-se dizer, sem errar, que existe um antes e um depois de Italo Bianchi, na propaganda pernambucana.

Embora o conhecesse de vista, pois seu atelier ficava próximo à casa de meus tios, só tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente anos depois, ao chegar a Recife, de volta de minhas andanças por São Paulo e Rio de Janeiro. Foi através de seu filho, Guido, que fui apresentado pessoalmente ao Italo. Que elegância! Que charme! Que simplicidade! Fiquei deveras impressionado com o carisma do milanês. Eu levava, como forma de me apresentar, um documentário sobre os meus trabalhos de artes plásticas,. Não demorou, fui convidado a fazer parte da grande família Ítalo Bianchi Publicitários Associados, para ser assistente de RTVC.

Durante o tempo em que trabalhei nessa agência, pude constatar o que Italo representava, tanto para os seus subordinados, como também para os seus sócios. A sua polidez, no trato com os clientes, somada a seu senso estético, sua marca registrada, fizeram da agência um farol para todos os pretendentes à profissão de publicitário, pelo Nordeste afora. Quem não queria trabalhar ao lado desse grande ícone? Todos, sem exceção! Italo foi sempre cercado por grandes criativos. Os admitia por que sabia seus potenciais. Tinha que zelar pela qualidade de sua agência. Ali, não tinha espaço para mediocridade, para egos talvez. Italo era um verdadeiro Diretor de Criação. Orientava, e suas intervenções, na maioria das vezes, substanciavam os conceitos divisados pelos criadores.

Que eu me lembre, Italo não era afeito a badalações, tão comuns aos “new riches” da publicidade. Claro que ele sempre estava presente às premiações, até porque sua agência era sempre contemplada nesses eventos. Era provável que freqüentasse alguns almoços, ou jantares, pois, afinal de contas, ele era um homem sociável e de negócios.

Bajuladores, Italo teve aos montes, ao longo de sua vida profissional. Se ele gostava disso, não saberia dizer, mas eu mesmo fui testemunha, ao vê-lo assediado por tantos desse tipo.

Alguns anos depois, eu resolvi filmar sua exposição de quadros, que acontecia na Galeria Ranulpho. Naquela época, eu já havia me desligado da agência.

Depois do “Vernissage”, já de posse de um bom material gravado - o da noite da abertura da exposição - , resolvi consultá-lo para saber se poderia complementar o filme com um depoimento dele em sua casa. Naquela ocasião, Italo morava na Praia de Conceição, município de Paulista, litoral Norte de Pernambuco. Ele aceitou e fomos fazer as filmagens na semana seguinte. Encurtando a história, isso tudo resultou num documentário de 10 minutos, “Italo Bianchi – Signos”. Muito pouco pro tamanho do profisional que era Italo Bianchi, mas creio que esse foi o único vídeo realizado sobre ele, até o presente momento, fato que me deixa muito orgulhoso, já que sempre fui e sou seu fã. Um fã, diga-se de passagem, muito discreto, pois só agora se revela. Ah, esse vídeo só foi possível graças ao produtor Genivaldo Di Pace, aliás, um grande sujeito também (Di Pace é o primeiro da esquerda pra direita na foto que ilustra este comentário), que colocou à minha disposição equipe e maquinário, para tão difícil empreitada.

Voltando à propaganda, naquela época, enquanto, em parte, o mercado se promiscuía, lá estava sua agência, primando pela qualidade e seriedade do fazer propaganda. Aderiam à carteira de clientes da sua agencia, não mais apenas empresas locais, mas, sobretudo, empresas de grande porte de vários Estados do Nordeste. Assim, a agência se projetou no cenário publicitário do Brasil e os prêmios, nacionais e internacionais, vieram como conseqüência desse trabalho, feito com seriedade e muita aplicação.

Italo foi e será sempre lembrado como um modelo. Lá se foi o homem, mas seu legado ficou, perpetuado no trabalho de tantos publicitários que nele se inspiraram.

Arrivederte, Italo!

domingo, 12 de outubro de 2008

Um conto de boca suja sobre um dia de calor da porra!

















UM CONTO DE BOCA SUJA
SOBRE UM DIA DE CALOR DA PORRA!



A porra do sol já queimava as moleiras dos filhos da puta que trafegavam a merda da principal avenida da josta da cidade, logo nas primeiras horas da manhã.

Nenhum corno de bom senso sairia de casaco naquela manhã, mas o idiota Odorico Gabão, saiu. O degenerado funcionário público de uma figa, perto de obter as benesses da porra da aposentadoria, suava feito um condenado dentro do bonde.

O jornal que o fresco havia comprado na birosca, perto de onde tomara o caralho da condução, já se mostrava roto de tanto que ele o sacolejava, abanando-se. Flap, flap...

A bosta do bonde, pra variar, estava lotado. Caralho! Todo dia era assim! Um bando de palermas se amontoava: um enfiado no cu do outro; os mais baixinhos cheiravam os sovacos fedorentos da porra do vizinho mais alto; os mais sacanas e espertos se esfregavam nas bundas das vadias das serventes, enfermeiras e secretárias, todos de pau duro, enquanto as vadias fingiam não estarem sentindo a dureza das pirocas enrijecidas em seus rabos.

Odorico continuava se abanando feito um viadinho das cortes francesas, atormentado pelo infeliz calorão que torrava toda a porra da cidade. O bonde sacolejava com os diabos, agora trafegando pelas ruas estreitas do centro: sai beco entra beco.

Um caralho de um cão vadio, não se sabe de onde saiu o filhote de cadela, atravessou-se à frente do bonde e o gangrenado do motorneiro, filho da puta, acionou a porra do freio, fazendo com que a rafaméia toda se movimentasse bruscamente para a frente do carro. Uma gritaria de foder qualquer ouvido normal começou e o populacho trabalhador, começou a se empurrar.

Odorico, que estava agarrado com uma mão só na porra da argola de couro, perto de uma das saídas do coletivo, se soltou e foi bater de cara no ferro central que ficava no meio do carro. O cacete do jornal, que já estava todo esfarelado e carcomido pelo suor do infeliz Odorico, virou pó de tanto o babaca chacoalhar na afetada abanação! Aliás, o jornal não tinha mesmo nenhuma serventia, pois era apenas para o corno fazer fita todas as vezes que ele chegava à espelunca onde ele se fodia há anos trabalhando.

Odorico voltou desequilibrado, quando a porra do motorneiro acionou a alavanca de movimento à frente, só que o filho de uma égua exagerou na dose, fazendo outra vez a corja se jogar, desta vez para trás da carruagem eletrificada.

Odorico não agüentou o solavanco e caiu em cima de uma funcionária dos correios. A mocréia levou uma pancada na caixa torácica tão violenta, que deu um berro do caralho, de tanta dor que a condenada sentiu. Em seguida, a putinha das missivas ainda teve reflexo de dar uma porrada com a bolsa, contendo duas marmitas cheinhas de uma gororoba lotada de sebo, nas fuças de Odorico, que lhe tirou a ponte fora. O artefato bucal fora pago com dinheiro tomado de um carcamano agiota judeu, acostumado a vitimar os infelizes colegas de repartição do infeliz Odorico Gabão.
O material dentário foi jogado para fora da porra do bonde para desespero de Odorico que, num reflexo digno de um Capitão Marvel, jogou-se em seu encalço.

Jogado no asfalto, o infeliz das costas ocas alcançou a ponte antes que a mesma caísse na merda do bueiro repleto de dejetos. Feliz da vida, o bosta do funcionário público não teve dúvida: foi logo colocando a perereca na boca. A princípio, o imbecil sentiu o craquear de areia por entre seus dentes reais, machucando suas desniveladas gengivas, pressionadas pelo palato de metal da merda da ponte.

O traste levantou-se e viu o cacete do bonde indo embora, remexendo sua traseira de um lado pro outro, em cima dos trilhos irregulares da via.

Odorico se recompôs e, ao olhar pra frente, deu um sorriso largo, ao ver que ele estava bem em frente a sua repartição, só não sabia que um dente da merda da ponte, havia se desprendido, deixando uma garagem vazia à mostra. Odorico seguiu apressado e entrou no prédio, já que faltavam apenas cinco minutos para ele bater a porra do ponto para mais um cacete de um dia desgraçado de não fazer nada!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Uma quase tragédia de inverno não fosse o pão preto da padaria do senhor Ivan Graminsko














UMA QUASE TRAGÉDIA DE INVERNO
NÂO FOSSE PÃO PRETO COM NOZES DA PADARIA DO
SENHOR IVAN GRAMINSKO


Nevava forte naquela manhã de Dezembro, em que Flódor Vandinsk, saiu para comprar pão e deixara Yuliya, sua adorada esposa, dormindo.

Vandinsk sabia que teria que retornar para casa logo que comprasse o pão, mas ele não queria. Pensou como poderia se desculpar quando chegasse em casa tarde da noite, bêbado e sem o pão que sua mulher tanto gostava. Não, ele não teria coragem de fazer isso com Yuliya. Ou teria? Ela era uma mulher especial. Uma mulher cujo corpo era como uma pétala macia de rosa. Sua voz era um canto mavioso que só as sereias poderiam entoar. Trepar com ela era mais que fazer sexo, era algo que ele nunca experimentara antes com outra mulher. Seu hálito exalava o perfume do pecado. Por que então Vandinsk queria só retornar para casa à noite e ainda por cima embriagado, sem o pão de que ela tanto gostava? Ele mesmo se perguntava, enquanto pedalava a sua bicicleta até Gornika. Não tinha resposta nenhuma para dar a si mesmo. Então, ele resolveu se concentrar na estrada e pedalou.

Ao chegar à padaria, Vandinsk bateu a neve que se acumulara em seu casaco durante o trajeto de sua casa até a vila, entrou na padaria, fazendo badalar um pequeno sino que ficava no topo do caixilho da porta.

Lá dentro estava quente. Ele poderia ficar ali por todo tempo do mundo, até mesmo depois que o inverno desse adeus a Gornika, vila onde nascera e, provavelmente, iria morrer. Vandinsk iria pedir pão preto com nozes, uma especiaria da casa, que fazia a alegria de Yuliya.

O senhor Ivan Graminsko, um velho ex-combatente da guerra da Prússia, que parecia estar sempre com raiva das pessoas, entregou-lhe o pão e o chamou para um aparte. Vandinsk se aproximou e o velhote disse-lhe, arreganhando os dentes podres: “Tenha mais zelo com tua mulher, meu rapaz!” Flódor Vandinsk sorriu acanhado pro velho, entregou-lhe um punhado de moedas carcomidas pelo zinabre e saiu às pressas do estabelecimento, enquanto Ivan Graminsko dava uma risadinha de escárnio pra lá de esquisita.

Do lado de fora, Vandinsk enfiou o pão no bolso interno do seu casaco, fechou-o, subiu na bicicleta e pedalou às pressas, de volta pra casa.

Enquanto pedalava com esforço por entre a trilha aberta na neve, Vandinsk não pensou mais em chegar em casa tarde naquele dia, nem pensou muito menos chegar bêbado sem o pão preto com nozes. Alguma coisa aquele velho sabia que ele não sabia. Mas o que era que Ivan Graminsko sabia?

Finalmente, Vandinsk, chegou em casa. Subiu as escadas com dificuldade. Os anos de muitos de cigarros lhe pesavam agora. Abriu a porta e entrou, exausto. Vandinsk correu direto para o quarto.

Lá chegando, deu de cara com Gertrude, uma jovem alemã amiga de Yuliya. Ela estava ainda nua quando ele abriu a porta. Gertrude tinha um corpinho de fazer inveja a qualquer boneca de porcelana da corte de Luis XV. Seus peitinhos rijos apontavam para a parede, como que indicando o caminho mais provável que um homem devia subir quando estivesse sobre uma mulher daquelas.

Vandinsk olhou-a nos olhos procurando uma resposta para o que estava acontecendo. Contudo, seu olhar teimava se fixar na xoxota da jovem germana. Yuliya por sua vez, vendo o marido atônito, pediu-lhe para que não ficasse com raiva, pois Gertrude era a sua melhor amiga e que poderia ser dele também. Então, Yuliya pediu para que Gertrude confirmasse o que ela estava dizendo. A jovem, que ainda segurava seu vestido, balançou a cabeça confirmando que sim e ainda piscou o olho para Vandinsk que continuava confuso.

Ele sentou na beira da cama, tirou o chapéu de pele de urso com abas protetoras de orelhas, coçou a cabeça, olhou para Gertrude, ou melhor, para xoxota dela, depois para Yuliya e ficou pensando...

Yuliya levantou-se, saindo debaixo do grosso duvet recheado de penas de ganso, totalmente nua, engatinhou sobre o colchão até Vandinsk, retirou-lhe o casaco, entregou-o para Gertrude que o pendurou atrás da porta do quarto. A alemãozinha pegou o pão preto com nozes de dentro do bolso interno, deixou cair no chão o vestido que segurava e, nua, ela aproximou-se de Vandinsk e de Yuliya, abraçando os dois. Mas antes, a moçoila, arrancara dois nacos do pão e dera na boca de cada um e depois ela também se serviu da iguaria. Depois, Gertrude colocou o pão de lado, em seguida, baixou-se e começou a abrir o cinto e as calças de Vandinsk, enquanto Yuliya beijava o pescoço avermelhado do marido, que mais parecia o pescoço de um galo de briga siberiano.

Vandinsk estava entorpecido, mas seus pensamentos entravam e saiam da padaria de Ivan Graminsko. O que o velhote tentara lhe dizer? Ele continuava não sabendo a resposta e agora então...

As duas mulheres, finalmente o puseram completamente nu. Vandinsk parecia estar usando uma ceroula de carne. Puxaram-no para o meio da cama e começaram a fazer-lhe carícias por todo canto de seu corpo. Gertrude primeiro beijou Yuliya, depois desceu até a virilha de Vandinsk, que se contorceu feito uma toalha ensopada e espremida até o último esforço, ao sentir a boquinha bávara sugar-lhe o pau como quem chupa flocos de neve com groselha.

Vandinsk estava tão envolto pelo desejo, que nem notou a presença de Vladimir Vulka, o ajudante do velho Ivan Graminsko, que saiu de fininho de dentro do guarda roupas, nas pontas dos pés. Sempre que podia; Vulka tomava emprestado um casaco de Vandinsk, claro sem ele saber e depois o devolvia, sem Vandinsk saber também.

O mancebo, responsável pelo delicioso pão preto com nozes que Yuliya adorava, se escafedeu da casa, se livrando por pouco de ser vítima de uma tragédia de inverno, muito comum por aquelas bandas.

A partir dali, Vandinsk passou a comer Yuliya, Gertrude e o pão preto com nozes. Já Vladimir, passou a fazer mais pão preto com nozes, comer Gertrude e Yuliya todas as vezes que Vandinsk saia para comprar pão preto com nozes na padaria do senhor Ivan Graminsko, no centro de Gornika.


Aquele inverno ainda prometia!