sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Parabéns Mineirinho!






















Se vivo fosse, o poeta faria neste 31 de Outubro, 106 anos.


POEMA DE SETE FACES

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.



Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O Escafandro e a Borboleta

"Jean-Dominique Bauby (Mathieu Amalric) tem 43 anos, é editor da revista Elle e um homem apaixonado pela vida. Mas, subitamente, tem um derrame cerebral. Vinte dias depois, ele acorda. Ainda está lúcido, mas sofre de uma rara paralisia: o único movimento que lhe resta no corpo é o do olho esquerdo. Bauby se recusa a aceitar seu destino. Aprende a se comunicar piscando letras do alfabeto e forma palavras, frases e até parágrafos. Cria um mundo próprio, contando com aquilo que não se..."


Não percam em breve no Cine Cubancheiro

http://video.movies.go.com/thedivingbellandthebutterfly/main.html

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Reflexão IV


















REFLEXÃO IV

A pior coisa do mundo é não ter nada o que fazer quando se tem tudo ainda por dizer.

domingo, 26 de outubro de 2008

Reflexão III


















REFLEXÃO III

Hoje, no Brasil, não se separa o joio do trigo, primeiro porque dá trabalho e depois por que juntos dão mais lucro.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Pequeno curto
















PEQUENO CURTO


Ela pintava e bordava. Pintava mais que bordava. Bordava menos que pintava. Traquinas ela era. Dava pras cores. Lambuzava-se. Melava-se. Tintas da cintura aos pés. Olhava-se depois no espelho. Azul; Verde; Lilás. Rosa. Que Rosa? A rosa rosa, não a vermelha, mas a rosa.

Pintava o sete. Também o oito. Sabia ler, escrever então. Sabia. Sabia? Qualquer um que chegasse. Pintava e sabia.

Com quem andava ela? Comigo, contigo. Com eles, ora! Tinhas os pés descalço, tu lembras? Sapatos? Todos. Vergonha? Nenhuma. Bendita seja.

Sozinha ia para a missa. Que missa? A missa. Aquela que hora se esvai e vai. Ninguém sabe quando. Não chora. Não mia. Mia? Sim. Tomada de desejo. Tomava o desejo. Bebia. Tomava. Bebia. Foi-se então embora. Embora fosse só. Apenas a mãe de um amigo. Vivera a mãe. Nunca mais voltara. A mãe? A mãe.

Chegou! Cagara certa vez. Igual. Parece que sim. Sim parece.
Vamos menina. Pra sua casa. Lá é a terra prometida. Nem casca, muito menos ferida. Ferida? Sim. Combalida, mas viva. Então viva.

Vamos comemorar, então.

domingo, 19 de outubro de 2008

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Cênicas palavras


















CÊNICAS PALAVRAS

Você, a palavra.
Sempre você.
Loucuras: chagas abertas.
Desvarios cósmicos
Entre estrelas fugidias.
Astros e ácaros em festa
Tudo em um fio a
Deslizar em rolos bambos.
Lágrimas doces em marolas.
Fecham-se as latas em cortinas
Nos breves e bravos aplausos.
O ator, a atriz
O público, você,
O Teatro funcionando.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Mais uma ode para Italo Bianchi


Quero falar não de sua morte, acontecida no dia 5 de outubro próximo passado, mas de quem foi esse italiano, milanês, que decidiu viver em minha cidade de nascimento, Recife.

Contar quem foi Ítalo é um tanto complicado, pois Italo era muitas coisas. De tudo um pouco, ele conseguiu ser. Desde o mais culto dos sujeitos, ao mais simplório, principalmente, nas conversas banais sobre o cotidiano.

Italo, quando chegou a Recife, não chegou de mãos vazias. Ele trouxe com ele sua delicadeza, sua retidão profissional e, somada a isso, uma pesada bagagem cultural e profissional, que iria mudar a cara da propaganda no Estado de Pernambuco. Pode-se dizer, sem errar, que existe um antes e um depois de Italo Bianchi, na propaganda pernambucana.

Embora o conhecesse de vista, pois seu atelier ficava próximo à casa de meus tios, só tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente anos depois, ao chegar a Recife, de volta de minhas andanças por São Paulo e Rio de Janeiro. Foi através de seu filho, Guido, que fui apresentado pessoalmente ao Italo. Que elegância! Que charme! Que simplicidade! Fiquei deveras impressionado com o carisma do milanês. Eu levava, como forma de me apresentar, um documentário sobre os meus trabalhos de artes plásticas,. Não demorou, fui convidado a fazer parte da grande família Ítalo Bianchi Publicitários Associados, para ser assistente de RTVC.

Durante o tempo em que trabalhei nessa agência, pude constatar o que Italo representava, tanto para os seus subordinados, como também para os seus sócios. A sua polidez, no trato com os clientes, somada a seu senso estético, sua marca registrada, fizeram da agência um farol para todos os pretendentes à profissão de publicitário, pelo Nordeste afora. Quem não queria trabalhar ao lado desse grande ícone? Todos, sem exceção! Italo foi sempre cercado por grandes criativos. Os admitia por que sabia seus potenciais. Tinha que zelar pela qualidade de sua agência. Ali, não tinha espaço para mediocridade, para egos talvez. Italo era um verdadeiro Diretor de Criação. Orientava, e suas intervenções, na maioria das vezes, substanciavam os conceitos divisados pelos criadores.

Que eu me lembre, Italo não era afeito a badalações, tão comuns aos “new riches” da publicidade. Claro que ele sempre estava presente às premiações, até porque sua agência era sempre contemplada nesses eventos. Era provável que freqüentasse alguns almoços, ou jantares, pois, afinal de contas, ele era um homem sociável e de negócios.

Bajuladores, Italo teve aos montes, ao longo de sua vida profissional. Se ele gostava disso, não saberia dizer, mas eu mesmo fui testemunha, ao vê-lo assediado por tantos desse tipo.

Alguns anos depois, eu resolvi filmar sua exposição de quadros, que acontecia na Galeria Ranulpho. Naquela época, eu já havia me desligado da agência.

Depois do “Vernissage”, já de posse de um bom material gravado - o da noite da abertura da exposição - , resolvi consultá-lo para saber se poderia complementar o filme com um depoimento dele em sua casa. Naquela ocasião, Italo morava na Praia de Conceição, município de Paulista, litoral Norte de Pernambuco. Ele aceitou e fomos fazer as filmagens na semana seguinte. Encurtando a história, isso tudo resultou num documentário de 10 minutos, “Italo Bianchi – Signos”. Muito pouco pro tamanho do profisional que era Italo Bianchi, mas creio que esse foi o único vídeo realizado sobre ele, até o presente momento, fato que me deixa muito orgulhoso, já que sempre fui e sou seu fã. Um fã, diga-se de passagem, muito discreto, pois só agora se revela. Ah, esse vídeo só foi possível graças ao produtor Genivaldo Di Pace, aliás, um grande sujeito também (Di Pace é o primeiro da esquerda pra direita na foto que ilustra este comentário), que colocou à minha disposição equipe e maquinário, para tão difícil empreitada.

Voltando à propaganda, naquela época, enquanto, em parte, o mercado se promiscuía, lá estava sua agência, primando pela qualidade e seriedade do fazer propaganda. Aderiam à carteira de clientes da sua agencia, não mais apenas empresas locais, mas, sobretudo, empresas de grande porte de vários Estados do Nordeste. Assim, a agência se projetou no cenário publicitário do Brasil e os prêmios, nacionais e internacionais, vieram como conseqüência desse trabalho, feito com seriedade e muita aplicação.

Italo foi e será sempre lembrado como um modelo. Lá se foi o homem, mas seu legado ficou, perpetuado no trabalho de tantos publicitários que nele se inspiraram.

Arrivederte, Italo!

domingo, 12 de outubro de 2008

Um conto de boca suja sobre um dia de calor da porra!

















UM CONTO DE BOCA SUJA
SOBRE UM DIA DE CALOR DA PORRA!



A porra do sol já queimava as moleiras dos filhos da puta que trafegavam a merda da principal avenida da josta da cidade, logo nas primeiras horas da manhã.

Nenhum corno de bom senso sairia de casaco naquela manhã, mas o idiota Odorico Gabão, saiu. O degenerado funcionário público de uma figa, perto de obter as benesses da porra da aposentadoria, suava feito um condenado dentro do bonde.

O jornal que o fresco havia comprado na birosca, perto de onde tomara o caralho da condução, já se mostrava roto de tanto que ele o sacolejava, abanando-se. Flap, flap...

A bosta do bonde, pra variar, estava lotado. Caralho! Todo dia era assim! Um bando de palermas se amontoava: um enfiado no cu do outro; os mais baixinhos cheiravam os sovacos fedorentos da porra do vizinho mais alto; os mais sacanas e espertos se esfregavam nas bundas das vadias das serventes, enfermeiras e secretárias, todos de pau duro, enquanto as vadias fingiam não estarem sentindo a dureza das pirocas enrijecidas em seus rabos.

Odorico continuava se abanando feito um viadinho das cortes francesas, atormentado pelo infeliz calorão que torrava toda a porra da cidade. O bonde sacolejava com os diabos, agora trafegando pelas ruas estreitas do centro: sai beco entra beco.

Um caralho de um cão vadio, não se sabe de onde saiu o filhote de cadela, atravessou-se à frente do bonde e o gangrenado do motorneiro, filho da puta, acionou a porra do freio, fazendo com que a rafaméia toda se movimentasse bruscamente para a frente do carro. Uma gritaria de foder qualquer ouvido normal começou e o populacho trabalhador, começou a se empurrar.

Odorico, que estava agarrado com uma mão só na porra da argola de couro, perto de uma das saídas do coletivo, se soltou e foi bater de cara no ferro central que ficava no meio do carro. O cacete do jornal, que já estava todo esfarelado e carcomido pelo suor do infeliz Odorico, virou pó de tanto o babaca chacoalhar na afetada abanação! Aliás, o jornal não tinha mesmo nenhuma serventia, pois era apenas para o corno fazer fita todas as vezes que ele chegava à espelunca onde ele se fodia há anos trabalhando.

Odorico voltou desequilibrado, quando a porra do motorneiro acionou a alavanca de movimento à frente, só que o filho de uma égua exagerou na dose, fazendo outra vez a corja se jogar, desta vez para trás da carruagem eletrificada.

Odorico não agüentou o solavanco e caiu em cima de uma funcionária dos correios. A mocréia levou uma pancada na caixa torácica tão violenta, que deu um berro do caralho, de tanta dor que a condenada sentiu. Em seguida, a putinha das missivas ainda teve reflexo de dar uma porrada com a bolsa, contendo duas marmitas cheinhas de uma gororoba lotada de sebo, nas fuças de Odorico, que lhe tirou a ponte fora. O artefato bucal fora pago com dinheiro tomado de um carcamano agiota judeu, acostumado a vitimar os infelizes colegas de repartição do infeliz Odorico Gabão.
O material dentário foi jogado para fora da porra do bonde para desespero de Odorico que, num reflexo digno de um Capitão Marvel, jogou-se em seu encalço.

Jogado no asfalto, o infeliz das costas ocas alcançou a ponte antes que a mesma caísse na merda do bueiro repleto de dejetos. Feliz da vida, o bosta do funcionário público não teve dúvida: foi logo colocando a perereca na boca. A princípio, o imbecil sentiu o craquear de areia por entre seus dentes reais, machucando suas desniveladas gengivas, pressionadas pelo palato de metal da merda da ponte.

O traste levantou-se e viu o cacete do bonde indo embora, remexendo sua traseira de um lado pro outro, em cima dos trilhos irregulares da via.

Odorico se recompôs e, ao olhar pra frente, deu um sorriso largo, ao ver que ele estava bem em frente a sua repartição, só não sabia que um dente da merda da ponte, havia se desprendido, deixando uma garagem vazia à mostra. Odorico seguiu apressado e entrou no prédio, já que faltavam apenas cinco minutos para ele bater a porra do ponto para mais um cacete de um dia desgraçado de não fazer nada!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Uma quase tragédia de inverno não fosse o pão preto da padaria do senhor Ivan Graminsko














UMA QUASE TRAGÉDIA DE INVERNO
NÂO FOSSE PÃO PRETO COM NOZES DA PADARIA DO
SENHOR IVAN GRAMINSKO


Nevava forte naquela manhã de Dezembro, em que Flódor Vandinsk, saiu para comprar pão e deixara Yuliya, sua adorada esposa, dormindo.

Vandinsk sabia que teria que retornar para casa logo que comprasse o pão, mas ele não queria. Pensou como poderia se desculpar quando chegasse em casa tarde da noite, bêbado e sem o pão que sua mulher tanto gostava. Não, ele não teria coragem de fazer isso com Yuliya. Ou teria? Ela era uma mulher especial. Uma mulher cujo corpo era como uma pétala macia de rosa. Sua voz era um canto mavioso que só as sereias poderiam entoar. Trepar com ela era mais que fazer sexo, era algo que ele nunca experimentara antes com outra mulher. Seu hálito exalava o perfume do pecado. Por que então Vandinsk queria só retornar para casa à noite e ainda por cima embriagado, sem o pão de que ela tanto gostava? Ele mesmo se perguntava, enquanto pedalava a sua bicicleta até Gornika. Não tinha resposta nenhuma para dar a si mesmo. Então, ele resolveu se concentrar na estrada e pedalou.

Ao chegar à padaria, Vandinsk bateu a neve que se acumulara em seu casaco durante o trajeto de sua casa até a vila, entrou na padaria, fazendo badalar um pequeno sino que ficava no topo do caixilho da porta.

Lá dentro estava quente. Ele poderia ficar ali por todo tempo do mundo, até mesmo depois que o inverno desse adeus a Gornika, vila onde nascera e, provavelmente, iria morrer. Vandinsk iria pedir pão preto com nozes, uma especiaria da casa, que fazia a alegria de Yuliya.

O senhor Ivan Graminsko, um velho ex-combatente da guerra da Prússia, que parecia estar sempre com raiva das pessoas, entregou-lhe o pão e o chamou para um aparte. Vandinsk se aproximou e o velhote disse-lhe, arreganhando os dentes podres: “Tenha mais zelo com tua mulher, meu rapaz!” Flódor Vandinsk sorriu acanhado pro velho, entregou-lhe um punhado de moedas carcomidas pelo zinabre e saiu às pressas do estabelecimento, enquanto Ivan Graminsko dava uma risadinha de escárnio pra lá de esquisita.

Do lado de fora, Vandinsk enfiou o pão no bolso interno do seu casaco, fechou-o, subiu na bicicleta e pedalou às pressas, de volta pra casa.

Enquanto pedalava com esforço por entre a trilha aberta na neve, Vandinsk não pensou mais em chegar em casa tarde naquele dia, nem pensou muito menos chegar bêbado sem o pão preto com nozes. Alguma coisa aquele velho sabia que ele não sabia. Mas o que era que Ivan Graminsko sabia?

Finalmente, Vandinsk, chegou em casa. Subiu as escadas com dificuldade. Os anos de muitos de cigarros lhe pesavam agora. Abriu a porta e entrou, exausto. Vandinsk correu direto para o quarto.

Lá chegando, deu de cara com Gertrude, uma jovem alemã amiga de Yuliya. Ela estava ainda nua quando ele abriu a porta. Gertrude tinha um corpinho de fazer inveja a qualquer boneca de porcelana da corte de Luis XV. Seus peitinhos rijos apontavam para a parede, como que indicando o caminho mais provável que um homem devia subir quando estivesse sobre uma mulher daquelas.

Vandinsk olhou-a nos olhos procurando uma resposta para o que estava acontecendo. Contudo, seu olhar teimava se fixar na xoxota da jovem germana. Yuliya por sua vez, vendo o marido atônito, pediu-lhe para que não ficasse com raiva, pois Gertrude era a sua melhor amiga e que poderia ser dele também. Então, Yuliya pediu para que Gertrude confirmasse o que ela estava dizendo. A jovem, que ainda segurava seu vestido, balançou a cabeça confirmando que sim e ainda piscou o olho para Vandinsk que continuava confuso.

Ele sentou na beira da cama, tirou o chapéu de pele de urso com abas protetoras de orelhas, coçou a cabeça, olhou para Gertrude, ou melhor, para xoxota dela, depois para Yuliya e ficou pensando...

Yuliya levantou-se, saindo debaixo do grosso duvet recheado de penas de ganso, totalmente nua, engatinhou sobre o colchão até Vandinsk, retirou-lhe o casaco, entregou-o para Gertrude que o pendurou atrás da porta do quarto. A alemãozinha pegou o pão preto com nozes de dentro do bolso interno, deixou cair no chão o vestido que segurava e, nua, ela aproximou-se de Vandinsk e de Yuliya, abraçando os dois. Mas antes, a moçoila, arrancara dois nacos do pão e dera na boca de cada um e depois ela também se serviu da iguaria. Depois, Gertrude colocou o pão de lado, em seguida, baixou-se e começou a abrir o cinto e as calças de Vandinsk, enquanto Yuliya beijava o pescoço avermelhado do marido, que mais parecia o pescoço de um galo de briga siberiano.

Vandinsk estava entorpecido, mas seus pensamentos entravam e saiam da padaria de Ivan Graminsko. O que o velhote tentara lhe dizer? Ele continuava não sabendo a resposta e agora então...

As duas mulheres, finalmente o puseram completamente nu. Vandinsk parecia estar usando uma ceroula de carne. Puxaram-no para o meio da cama e começaram a fazer-lhe carícias por todo canto de seu corpo. Gertrude primeiro beijou Yuliya, depois desceu até a virilha de Vandinsk, que se contorceu feito uma toalha ensopada e espremida até o último esforço, ao sentir a boquinha bávara sugar-lhe o pau como quem chupa flocos de neve com groselha.

Vandinsk estava tão envolto pelo desejo, que nem notou a presença de Vladimir Vulka, o ajudante do velho Ivan Graminsko, que saiu de fininho de dentro do guarda roupas, nas pontas dos pés. Sempre que podia; Vulka tomava emprestado um casaco de Vandinsk, claro sem ele saber e depois o devolvia, sem Vandinsk saber também.

O mancebo, responsável pelo delicioso pão preto com nozes que Yuliya adorava, se escafedeu da casa, se livrando por pouco de ser vítima de uma tragédia de inverno, muito comum por aquelas bandas.

A partir dali, Vandinsk passou a comer Yuliya, Gertrude e o pão preto com nozes. Já Vladimir, passou a fazer mais pão preto com nozes, comer Gertrude e Yuliya todas as vezes que Vandinsk saia para comprar pão preto com nozes na padaria do senhor Ivan Graminsko, no centro de Gornika.


Aquele inverno ainda prometia!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

The city is calm, baby!

















THE CITY IS CALM, BABY!

The city is calm, baby!
The entire city waked empty;
The schools didn’t work
Nobody ate either
No cars, no buses, no bikes
Just now Jews didn’t sell in New York
They are talking about meals only
As a thief goes to steal them all
Inside the churches nuns and priests didn’t pray
Outdoors the skinheads kill gays
Hookers are fucking in the hotels, in the alleys also
The only noise we hearing now is you sucking my dick!
That’s all, baby.
Itajai is calm, isn’t it?

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Sentado esperando















SENTADO ESPERANDO


Ele estava sentado ali no meio da praça, num banquinho, esperando não sabia o quê.

Um vento, daqueles ventosos, vindo do nada, soprou. Soprou tanto, que levantou a batina do padre que saiu sabe Deus de onde. Depois foi embora, deixando apenas uma brisa.

Uma menina, usando óculos, brincava num balanço fixado ele não sabia como.

Eram quase seis horas e o sol teimava em não ir embora pra valer, ele não sabia por que.

Nuvens rosadas aglomeravam-se por detrás do edifício mais alto da cidade, construído ele não sabia pra quê e, muito menos, por quem.

O vento voltou mais forte, agora fazendo um pequeno redemoinho, levantando ninhos, folhas, papéis de balas e uma nota de dez!

“O que eu estou fazendo aqui, que não corro pra pegá-la?!” Aliás, de tanto esperar sentado, ele decidiu se levantar e correr atrás! Não lhe perguntem por quê, pois ele não saberia explicar o motivo de sua desesperação.

“Sim senhor, esta é mesmo uma bela nota de dez!”

O banquinho aonde ele permanecera por horas a fio, ficou sozinho. Aliás, sozinho ele se encontrava havia mais de cinqüenta anos! A sua idade.

O vento, que ventava, levantando tudo, de repente, parou de soprar. Outra vez, ele não saberia dizer o porquê de tanta calmaria.

A menina, usando óculos, foi embora deixando o balanço a balançar.

A noite chegou com as luzes da cidade.

Ele nunca pôde explicar o que acontecera com o vento, nem muito menos com a nota de dez que ele trazia guardada no bolso da algibeira. O que ele só sabia, realmente, era que estava sentado no banquinho, já fazia uma vida inteira.