segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Filosofando geral!


"Caros colegas, amanhã (31/08) voltamos a nos reunir a partir das 21:15h para dar seguimento à nossa discussão sobre A filosofia na idade trágica dos gregos. Já passamos pelas considerações de Nietzsche acerca de Tales, Anaximandro, Heráclito, Parmênides, e agora nos resta Anaxágoras (a partir do tópico XIV)Então, espero encontrá-los amanhã a noite lá no mercado velho para mais uma conversa entusiasmada."
Abraços,
Miguel Angel Rodriguez

sábado, 29 de agosto de 2009

Que gaivota sacana!


QUE GAIVOTA SACANA!

Estava eu a ver navios à beira da foz do rio, quando uma gaivota voou sobre minha cabeça e meu olhar a acompanhou, interessado, deixando de lado os navios.

Seu vôo era suave, plácido, silencioso. Nesse momento, lembrei Fernão Capelo Gaivota de Richard Bach, livro dos tempos idos de minha saudosa juventude.

Num movimento repentino e ascendente, ela subiu, subiu e depois desceu, e, mais uma vez, pairou sobre as águas. Planou suave até ficar estática, aproveitando uma corrente de ar quente. Não demorou, a gaivota voltou a subir, batendo suas asas sincronicamente. Subiu mais ainda que da outra vez. Então, mirando as águas, ela contorceu-se, juntou suas asas ao corpo e num mergulho quase suicida, a gaivota desceu, desceu, desceu tão ligeira que mais parecia uma flecha lançada por um arco forte e robusto. Seu corpo comprimido cortou o ar como uma lâmina de aço afiada e acertou em cheio a água. Lá se foi ela água a dentro. Ela afundou, e eu não a vi mais! Esperei, esperei mais um pouco ainda, na esperança de vê-la retornar, mas nada. Nada da gaivota voltar. Minha atenção voltou-se, então, pros navios que continuavam ao largo. Imóveis, mortos, gigantes de ferro sem vida a balouçar no vai e vem das ondas.

Foi então que, num arroubo de ousadia, a gaivota veio à tona. Viva como nunca. Ela subiu aos céus como um míssil, respingando água por todas as suas penas. Vitoriosa. Soberba. A gaivota subiu, abocanhando um peixe, cujas escamas, tal qual uma jóia, resplandeciam com a luz do sol, que logo pretendia esconder-se. Sorri, não por ela, ou por sua demonstração de destreza, mas por sua ousadia de, ao emergir, com seu alimento, dar um rasante sobre a minha cabeça, deixando-me acuado por uns instantes.

Não sei se ouvi direito, ou se foi o barulho do vento, misturado as ondas batendo no trapiche, mas eu podia jurar ter escutado a gaivota gargalhar. Pra, logo em seguida, a atrevida ave, vir a cagar-me a cabeça. Voou ela, faceira, na direção dos navios e deles passou. Ainda teve tempo, a danada, de olhar-me todo vexado e sujo a resmungar: “Que gaivota sacana!”

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Aniversário de Borges


Se vivo fosse, Jorge Luís Borges estaria complentando hoje, dia 24 de Agosto de 2009, 110 aninhos. Aqui está um trecho de "Evaristo Carriego" obra sua de 1930.

(...) No poente, ficava a pobreza gringa do bairro, sua nudez. O termo las orillas ajusta-se com sobrenatural precisão a esses pontais escassos, em que a terra assume a indeterminação do mar e parece digna de ilustrar a insinuação de Shakespeare: "A terra tem borbulhas, como as tem a água".
No poente, havia becos empoeirados que se iam empobrecendo pela tarde afora; havia lugares em que um galpão da estrada de ferro ou um vazio com pitas, ou uma brisa quase confidencial, inaugurava mal e mal o pampa. Ou, então, uma dessas casas baixo-tas sem reboco, de janela baixa, com grade – às vezes com uma amarela esteira atrás, com figuras – que a solidão de Buenos Aires parece criar, sem participação humana visível. Depois: o Maldonado, ressequido e amarelo leito, estirando-se sem destino desde La Chacarita e que, por milagre espantoso, passava de morto de sede às desmedidas extensões de água violenta, que carregavam furtivamente a rancharia moribunda das margens. Há uns cinqüenta anos, depois desse irregular leito ou morte, começava o céu: um céu de relinchos e crinas e pasto doce, um céu cavalar, os happy hunting-grounds preguiçosos das cavalhadas eméritas da polícia. Para o lado do Maldonado, tornava-se escassa a gentalha nativa, substituída pelo calabrês, gente com quem ninguém queria meter-se, pela perigosa boa lembrança de seu rancor, por suas punhaladas traiçoeiras iniludíveis. Aí Palermo entristecia, pois os trilhos de ferro do Pacífico bordejavam o arroio, descarregando essa peculiar tristeza das coisas escravizadas e grandes, das barreiras altas como varal de carroça em descanso, dos verticais terrenos aplainados e das plataformas. Uma fronteira de fumaça trabalhadora, uma fronteira de vagões rudes em movimento fechava esse lado; atrás, crescia ou emperrava o arroio. Estão encarcerando-o agora: esse quase infinito flanco de solidão que até bem pouco se acavernava, atrás da casa de doces e de truco La Paloma, será substituído por uma rua atrevida, de telhas do tipo inglês. Do Maldonado, não restará senão nossa lembrança, elevada e solitária, e a melhor tragicomédia popular argentina, e os dois tangos que se chamam assim – um primitivo, atualidade que não se preocupa, mera marcação da dança, ocasião de arriscar-se nos requebros; outro, um doloroso tangocanção, ao estilo da Boca – e algum clichê apoucado que não facilitará o essencial, a impressão de espaço, e uma equivocada outra vida, na imaginação dos que não o viveram. Ao imaginá-lo, não creio que o Maldonado fosse diferente de outros locais muito pobres, mas a idéia de sua gentalha, excedendo-se em esfarrapados bordéis, à sombra da inundação e do fim, imperava na imaginação popular. Assim, na hábil tragicomédia local que mencionei, o arroio não é um gasto pano de fundo: é uma presença muito mais importante do que o mulato Nava e que a china Dominga e que o Títere. (A ponte Alsina, com seu ainda não cicatrizado passado pendenciador e sua memória da grande ação patriótica dos oitenta, desbancou-o na mitologia de Buenos Aires. No que se refere à realidade, é fácil observar que os bairros mais pobres costumam ser os mais rebaixados e que neles floresce uma assustada decência.) Do lado do arroio, zarpavam as tormentas altas de terra que toldavam o dia, e o ataque de ar do pampeiro, golpeando todas as portas voltadas para o sul e que deixavam no vestíbulo uma flor de cardo, e a arrasadora nuvem de gafanhotos, que as pessoas tentavam espantar aos gritos,3 e a solidão e a chuva. Gosto de pó tinha esse bairro.
Na direção da água traiçoeira do rio, próximo ao bosque, o bairro tornava-se cruel. A primeira construção desse pontal foi a dos matadouros do Norte, que ocuparam umas dezoito quadras, entre as futuras ruas Anchorena, Las Heras, Áustria e Beruti, e agora sem mais vestígio verbal que o nome La Tablada, que ouvi de um carroceiro, ignorante de sua antiga justificativa. Tenho induzido o leitor a imaginar esse dilatado recinto de muitas quadras, e embora os currais tenham desaparecido nos setenta, a figura é típica do lugar, atravessado sempre por propriedades – o cemitério, o hospital Rivadávia, o presídio, o mercado, o barracão municipal, o atual lanifício, a cervejaria, a chácara de Hale –, com a pobreza de surrados destinos ao redor. Essa chácara era por duas razões mencionada: pelos pereirais que a garotada do bairro saqueava com clandestinos ataques e pela aparição que visitava os lados da rua Agüero, reclinada na haste de um lampião a cabeça impossível. Porque, aos verdadeiros perigos de um compadrio de facão e soberba, tinha-se que acrescentar os fantásticos de uma mitologia foragida; a viúva e o estapafúrdio porco de lata, sórdidos como o baixo mundo, foram as mais temidas criaturas dessa religião de escória. Antes tinha sido uma queimada esse norte: é natural que gravitassem em seus ares lixos de almas. Restam esquinas pobres que se não desabam é porque as sustentam ainda os compadritos mortos.
Descendo pela rua de Chavango (depois Las Heras), o último botequim do caminho era La Primem Luz, nome que, apesar de aludir a seus madrugadores hábitos, deixa impressão – correta – de cegas ruas, atascadas, sem ninguém, e por fim, nas cansadas curvas, uma humana luz de armazém. Entre os fundos do cemitério avermelhado do Norte e os da Penitenciária, ia-se levantando do pó um subúrbio achatado e despedaçado, sem rebocar: sua notória denominação, a Terra do Fogo. Escombros dos primórdios, esquinas de agressividade ou de solidão, homens furtivos que
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3 Destruí-los era coisa de hereges, porque levavam o sinal da cruz: marca de sua emissão e repartição
especiais por parte do Senhor.


se chamam assobiando e que se dispersam de repente na noite lateral dos becos, designavam seu caráter. O bairro era uma esquina final. Uma corja a cavalo, corja de sombreiro pontudo como mitra sobre os olhos e com a acaipirada bombacha, sustentava por inércia ou por impulso uma guerra de
duelos individuais com a polícia. A lâmina do valentão suburbano, sem ser tão longa – era luxo de corajosos usá-la curta –, era de melhor tempera que a do sabre adquirido pelo Estado, vale dizer, com predileção pelo custo mais alto e pelo pior material. Era manejada por um braço com mais vontade
de derrubar, melhor conhecedor dos rumos instantâneos do entrevero. Só pela virtude da rima, sobreviveu ao desgaste de quarenta anos um instante desse impulso:
Fique longe, eu lhe rogo,
que sou da Terra do Jogo.4
Não só de lutas; essa fronteira era feita de guitarras também. Escrevo esses recuperados fatos, e me atrai com aparente arbitrariedade o agradecido verso de Home-thoughts: "Here and here did England help me", que Browning escreveu pensando em uma abnegação sobre o mar e no alto navio torneado como um bispo do xadrez em que Nelson caiu, e que repetido por mim – traduzido também o nome da pátria, pois para Browning não era menos próximo o de sua Inglaterra – serve-me como símbolo de noites solitárias, de caminhadas extasiadas e eternas pela infinitude dos bairros. Porque Buenos Aires é profunda, e nunca, na desilusão ou no penar, abandonei-me a suas ruas sem receber inesperado consolo, seja por sentir irrealidade, seja pelas guitarras ao fundo de um pátio, seja pelo roçar de vidas. "Here and here did England help me", aqui e aqui veio me ajudar Buenos Aires. Essa razão é uma das razões por que resolvi compor este primeiro capítulo. (...)
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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A noite da cidade
































A NOITE DA CIDADE


As luzes cintilavam nos edifícios.

Num deles, uma janela aberta.

Um homem e uma mulher.

Ele arriou as calças. Ela ajoelhou e olhou-o.

Ele sorriu.

Ela avermelhou a face branca.

Ele puxou a cabeça dela pra frente.

Ela deixou-se levar, abriu a boca e salivou.

Uma batida na porta. Ela, desesperada, cerrou os dentes.

Ele gritou, desesperado, não pela mordida, mas por ver o marido dela apontando-lhe uma pistola.

Ela gritou.

O marido gritou.

A pistola gritou e a sirene da ambulância também.

As luzes dos edifícios continuaram cintilando.

Num deles, uma janela aberta...

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Com a palavra Arthur Schopenhauer


"O intelecto não é uma grandeza extensiva, mas intensiva: sendo assim, um único indivíduo pode tranqüilamente opor-se a dez mil, e uma assembléia de mil imbecis não faz um único homem inteligente.”

Arthur Schopenhauer

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Só pra relaxar pro fim de semana que se inicia!

Chovendo no molhado





























"ONDE O DIABO PERDEU AS BOTAS" OXIGENA A LITERATURA EM ITAJAÍ

Por José Isaías Venera – Jornalista SC 01522 JP

Hélio Jorge Cordeiro é um narrador. Um escritor que não se furta em evidenciar histórias de personagens quase inumanos. Mas tão comuns nos “causos” apresentados em rodas de diálogos, principalmente nas cidades interioranas desse país afora. Assim é “Onde o diabo perdeu as botas”, livro desse pernambucano que oxigena a literatura em Itajaí, cidade onde escolheu morar. A obra será lançada no próximo dia 13 de agosto, às 20h30, na Livraria e Editora Casa Aberta, ao lado da Caixa Econômica Federal, na Rua Lauro Müller, n. 83, nesta cidade portuária.
Michel Foucault, um autor Francês que refletia sobre a própria natureza da literatura, entendia que a sua potência estava justamente na sua exterioridade. Ou seja, na realidade que se podia criar por meio da literatura sem a qual não existiria. Assim, literatura pode ser compreendida como um fazer existir aquilo que nossa percepção cotidiana não conseguiria visualizar. Mas o que dizer das histórias deste livro “Onde o diabo perdeu as botas”, como a de Nozinho Albuquerque, tão comum em outros tempos e lugares, mas hoje exótica? Seria como um fazer voltar a existir o que era comum, sobretudo, na tradição oral.
Nozinho não é só uma personagem. É a continuação de uma tradição literária cada vez mais rara de se ler, ouvir, sentir. Inumano, fadado ao esquecimento por uma civilização demasiadamente humana, interessada mais no realismo direto e objetivo das narrativas jornalísticas, que noticiam acontecimentos de forma imperativa e julgadora, deixando sempre no limbo o que há de mais natural da vida: o imprevisível, o erro, o pecado, o gozo.


“Diziam que ele tinha sido amaldiçoado por uma mulher, ainda quando estava no ventre de sua mãe”. Pouca sorte desgraça não falta a Nozinho, tão ambíguo quanto o lugar: Cruzeiro da Bahia, em Minas Gerais.

Assim inicia o livro de Hélio, ao apresentar os mitos de fundação da pequena cidadela Cruzeiro da Bahia. Lugar onde um morador ao ser amaldiçoada, funda também uma espécie de pacto da cidade com o sobrenatural. Essa abertura do livro é uma nova versão de arquétipos do bem e do mal, presentes nas histórias de todas as civilizações. Nestes casos há, sempre, uma batalha sendo travada e alimentada pelo sobrenatural.
A impressão que se tem é que o equilíbrio da vida, sobretudo psíquica, depende de um certo misticismo e de reconhecimento das histórias dos ancestrais.
Negar o passado, por mais inumano que possa parecer, é também provocar um desequilíbrio entre as forças antagônicas que regem a vida. E é partindo desta compreensão que o livro ganha corpo. A partir daí, é construída uma história do presente da cidade. Diferenças e intrigar políticas contagiam os moradores ao ponto de negar o passado sobrenatural da cidade. Uma realidade imunda é construída a partir das relações políticas e interesseiras. Pelo visto, o escritor procura mostrar que, ao negar o passado sobrenatural, a maldição veio em dobro, quando os personagens perdem também suas referências. Nozinho Albuquerque passa a ser, somente, nome de praça e de avenida.

Como se pode observar, essa literatura é como um desses filmes inteligentes, que misturam temporalidades. Além disso, não faltam personagens com nomes sugestivos e que funcionam na história como gotas de vinho tinto e seco que faz saltar qualquer sabor no paladar do mais apático leitor. É o caso de Armando, o prefeito, Kruguer, o padre, e Orfeu, um peludo homem que mais parecia um cachorro; braço direito do prefeito. E como em toda cidade, salpicam boatos, como a de que comunista come criancinha. Ora, sobram similitudes das intrigas políticas com as que se observa no lado de cá da vida. Quanto mais a Cruzeiro da Bahia se distancia de seu passado sobrenatural, mas as relação sociais ficam resumida a interesses individuais. Dessa forma, o livro traz uma discussão bem presente e que incomoda a todos.
É preciso ler o livro, essa história dividida entre os diálogos e as narrativas, num texto leve, em certo momento irônico e sem abusar de metáforas. Aliás, metáforas talvez seja o que há de mais difícil na literatura, como costumava dizer o escritor argentino Jorge Luiz Borges.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A casa é aberta, mas o ambiente é fechado






















Apesar de, a casa ser aberta, o ambiente é fechado. Por isso, amanheci com uma dúvida danada: fazer ou não o lançamento de meu livro amanhã, dia 13 de Agosto, às 20:h30, na Livraria e Editora Casa Aberta.

Pode ser uma nóia minha, mas fiquei matutando sobre a possibilidade das pessoas evitarem locais fechados e por conseguinte, não comparecerem ao lançamento de meu livro. E, no caso de contraírem a tal gripe, culparem o mesmo por tal mazela, pois além de seu título se referir ao capeta, tem o fato do livro ser lançado no dia 13 de Agosto. Prato cheio, né, não?

Só a guisa de esclarecimento: aqui, em Itajaí, até o presente momento, já foram constatados, segundo a Vigilância Epidemiológica, 33 casos suspeitos, 6 casos confirmados e 16 descartados.

Estes dados são alarmantes? Eu, francamente, não saberia dizer. Estou entre a luz e a escada.

Ainda não sei se cancelo ou não o lançamento. Vou dividir esta nóia com o pessoal da livraria e, ainda hoje, informarei caso o evento seja cancelado. Aguardem, pois.

EM TEMPO!


C O M U N I C A D O

Face instruções da Vigilância Epidemiológica de Itajaí e o agravamento do estado de alerta do Governo Estadual e Federal , comunicamos o cancelamento do lançamento do Livro Onde o Diabo Perdeu as Botas, de Hélio Jorge Cordeiro, no dia 13 de agosto, 20:30 hs na Casa Aberta.
Avaliamos ser fundamental neste momento preservarmos a saúde e bem estar de todos.
Em momento oportuno estaremos divulgando nova data e esperamos contar com o apoio e compreensão de todos.

Atenciosamente,

Ivana B. dos Santos Severino
Casa Aberta Livraria e Editora

sábado, 1 de agosto de 2009

A obra é minha e ninguém tasca






















A OBRA É MINHA E NINGUÉM TASCA

Recentemente, li um artigo do escritor e poeta pernambucano, Raimundo Carrero acerca da técnica que envolve a literatura. Nele, o artigo, Carrero defende a idéia da liberdade autoral para criação. Carrero afirma que: “ (...) ninguém manda na mão do criador” e acrescenta – “...o criador – continua e continuará tendo a absoluta liberdade para estabelecer o próprio caminho, conquistando novas posições, determinado e seguro. O artista estará sempre alerta para defender a sua liberdade e o seu destino de criador em absoluto, protegendo o direito de inventar, pessoal e intransferível, absorvendo os caminhos de outras artes, mas seguro de sua individualidade. Daí por que soa a sua voz de vencedor” - “A obra é minha ninguém tasca eu vi primeiro” - Palavra por Palavra - Rascunho 109

Por que eu estou transcrevendo parte desse artigo do Raimundo Carrero? Por dois motivos: o primeiro, pelo fato de que precisamos desmistificar o ato da criação. Todos, independentemente de idade, credo, cor, sexo, escolaridade etc., têm dentro de si a fagulha criativa; uns utilizam técnicas aprimoradas, adquiridas na academia, enquanto outros se utilizam do autodidatismo. Cada um tem a sua maneira de criar, seja nas atividades artísticas, seja no mais simples ato do seu dia a dia. O segundo motivo é que, outro dia, conversando com uma amiga (poeta e contista), discutimos sobre as possibilidades de diferentes técnicas para o desenvolvimento de nossos trabalhos. Sejam elas quais forem, só vai depender de nós, criadores, escolhermos qual se adéqua melhor a nossas escritas, de acordo com as necessidades de nossa história e de como ela se desenrolará. Os elementos poderão ser: aspas, travessão, ou mesmo uma forma como a que Saramago utiliza, ou seja, fazendo com que a fala do personagem se destaque em maiúscula, o que facilita a compreensão do texto, segundo Carrero.

Sendo assim, ainda acompanhando o raciocínio de Carrero, devemos estar livres para dar vida aos nossos personagens sem as amarras da técnica.