terça-feira, 30 de outubro de 2012

Tá todo mundo louco, obá!


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pessoas, vejam que artigo interessante eu surrupiei do blog do Luís Nassif - agora eu dei pra isso! -. A nossa fissuração pelo progresso e pela vida fácil, dentro da cidades, pode estar nos levando a loucura - se é que já não somos um bando de piradinhos. Então, desse modo, só nos resta despertar o Napoleão que existe dentro de nós, sem medo, pois ninguém vai notar. Hehehe! Hahaha!


Enviado por luisnassif, ter, 30/10/2012 - 10:37

Por Marco Antonio L.

Da Deustche Welle
Lydia Heller
Estudos indicam que pessoas que nasceram e cresceram em centros urbanos são mais propensas a transtornos mentais. Nova área do conhecimento, o neuro-urbanismo, pode ajudar a melhorar o planejamento das grandes cidades.
Barulho, trânsito, lixo, pessoas apressadas e se empurrando por todos os lados – a vida nas grandes cidades é estressante. Mas as perspectivas de um emprego melhor, um salário mais alto e de um estilo de vida urbano atraem cada vez mais pessoas às cidades. Se há 60 anos menos de um terço da população mundial vivia em cidades, hoje mais da metade mora em centros urbanos. Até 2050, a estimativa é que essa cota atinja 70%.
"Com o aumento das populações urbanas, o número de distúrbios psíquicos também tem aumentado em todo o mundo", alerta Andreas Meyer-Lindenberg, diretor do Instituto Central de Saúde Mental de Mannheim. "Somente a depressão custa aos cidadãos europeus 120 bilhões de euros por ano. O custo de todas as doenças psíquicas juntas – incluindo demência, ansiedade e psicose – ultrapassa o orçamento do fundo de resgate do euro. A frequência e a gravidade dessas doenças costumam ser subestimadas", afirma.
Solidão e doenças
Em 2003, psiquiatras britânicos publicaram um estudo sobre o estado psicológico dos moradores do bairro londrino de Camberwell, uma área que teve um grande crescimento desde meados da década de 1960. Entre 1965 e 1997, o número de pacientes com esquizofrenia quase dobrou – um aumento acima do crescimento da população.
Na Alemanha, o número de dias de licença médica no trabalho relacionada a distúrbios mentais dobrou entre 2000 e 2010. Na América do Norte, recentes estimativas apontam que 40% dos casos de licença estão ligados à depressão.
"Nas cidades pode acontecer de as pessoas não conhecerem seus vizinhos, não conseguirem construir uma rede de apoio social como nas vilas e pequenas cidades. Elas se sentem sozinhas e socialmente excluídas, sem uma espécie de rede social de segurança", observa Andreas Heinz, diretor da Clínica de Psiquiatria e Psicoterapia no hospital Charité, em Berlim.
Quase não existem estudos consistentes sobre a influência do meio urbano no cérebro humano. Mas pesquisas com animais mostram que o isolamento social altera o sistema neurotransmissor do cérebro. "Acredita-se que a serotonina é um neurotransmissor importante para amortecer situações de risco. Quando animais são isolados socialmente desde cedo, o nível de serotonina diminui drasticamente. Isso significa que as regiões que respondem a estímulos ameaçadores são desinibidas e reagem de maneira mais forte, o que pode contribuir para que o indivíduo desenvolva mais facilmente distúrbios de ansiedade ou depressões", diz Heinz.
Até 2050, 70% da população mundial viverá em cidades grandes, segundo estimativa.
A vida urbana transforma o cérebro
Um dos primeiros estudos feitos com seres humanos parece confirmar essa suposição. Com ajuda de um aparelho de ressonância magnética, a equipe do psiquiatra Andreas Meyer-Lindenberg analisou o cérebro de pessoas que cresceram na cidade e de pessoas que se mudaram para a cidade já adultos.
Enquanto os voluntários resolviam pequenas tarefas de cálculo, os pesquisadores os colocavam sob pressão, por exemplo criticando que eles eram muito lentos, cometiam erros ou que eram piores que seus antecessores.
"Olhamos especificamente para as áreas do cérebro que são ativadas quando se está estressado – e que também têm um desenvolvimento distinto, dependendo da experiência urbana que a pessoa teve. Especialmente as amídalas cerebelosas reagiram ao estresse social, e de maneira mais intensa quando o voluntário vinha de um ambiente urbano. Essa região do cérebro está sempre ativa quando percebemos algo como sendo uma ameaça. Elas podem desencadear reações agressivas que podem gerar transtornos de ansiedade", explica Meyer-Lindenberg.
Além disso, quem cresceu na cidade grande apresentava, sob estresse, em regiões específicas do cérebro, uma atividade semelhante à apresentada por pessoas com predisposição genética para a esquizofrenia.
Pesquisa melhora planejamento urbano
Em todo o mundo, as cidades estão crescendo muito e se transformando. "Mas não existem ainda dados significativos de como uma cidade ideal deve ser quando se leva em consideração a saúde mental de seus habitantes", observa Meyer-Lindenberg.
Por isso, o especialista desenvolveu, em colaboração com geólogos da Universidade de Heidelberg e físicos do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe, um dispositivo móvel que pode testar voluntários em diversos pontos de uma cidade. Assim, os pesquisadores podem testar o funcionamento do cérebro em lugares e situações diferentes, como num cruzamento ou num parque.
Planejamento de cidades deve levar em conta influência do estresse urbano no cérebro, dizem especialistas.
Juntamente com posteriores análises do cérebro dos voluntários, os pesquisadores esperam obter dados mais concretos de como o cérebro processa os diferentes aspectos da vida cotidiana nas cidades.
Os resultados dessa pesquisa poderão ser de grande valor para a arquitetura e o planejamento urbano, afirma Richard Burdett, professor de estudos urbanos da London School of Economics. Para ele, o neuro-urbanismo, uma nova área do conhecimento que estuda a relação entre o estresse e as doenças psíquicas, pode ajudar a evitar a propagação de doenças psíquicas nas cidades.
"Planejadores urbanos precisam ter em mente que devem encontrar o equilíbrio entre a necessidade de organizar muitas pessoas em pouco espaço e a necessidade de se criar espaços abertos", acrescenta.
"As pessoas precisam ter acesso a salas de cinema, encontrar-se com amigos e passear nas margens dos rios. Hoje esses aspectos são, muitas vezes, ignorados quando novas cidades são planejadas na China ou na Indonésia. Os arquitetos se preocupam com as proporções e as formas, e os urbanistas, com a eficiência do transporte público. Mas muitas vezes não temos ideia do que isso faz com as pessoas."
Autora: Lydia Heller (mas)
Revisão: Marcio Damasceno

 

sábado, 27 de outubro de 2012

Graça, Darcy e Lula


 

Enviado por luisnassif, sab, 27/10/2012 - 13:32


Hoje é aniversário de 3 dos maiores Brasileiros de todos os tempos: Graciliano Ramos,Darcy Ribeiro e Lula. Segue texto do ALAGOANO GRACILIANO como FORMA DE HOMENAGEM AOS 3.
abraços (Gabriel Ciríaco Lira)

"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes.
Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.
Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer." GR
Há quem pense que escrever é fácil. E é: basta juntar uma palavra atrás da outra, pesar, sopesar, ver se soa bem, se não se está dizendo besteira... Compliquei? É tão fácil dizer besteira. É tão fácil não dizer coisa nenhuma.
O que eu queria dizer é que é fácil escrever hoje, com o computador, que faz tudo por nós, ou quase tudo, facilita a vida que é uma maravilha. Eu queria ver você escrever no tempo de Graciliano, de Machado, Vieira, Santo Agostinho.
No tempo de Machado escrevia-se com pena de ganso – coitados dos gansos! Talvez de pato – e lixem-se os patos! Havia pouco e difícil papel, pouca e difícil pena – que, como o nome diz, doía. Havia pouca tinta, tudo tinha que se economizar: pena, papel e tinta – e, conseqüentemente, palavras, idéias, já que tudo era restrito.
Mas ao que sabemos, nem idéias nem palavras não se economizavam. Se tudo faltava naquele tempo, havia um elemento que sobejava: precisamente o tempo, o essencial, o ser responsável pela criação, pela elucubração do pensamento, o nó-górdio da questão.
Decifra-me, desata-me, corta-me com a espada ou com a técnica – e nada mais resta, e estamos no tempo da pressa, do descartável, do virtual. Ah, belos tempos em que se tinha tempo! O pensamento desenrolava-se palmo a palmo, pacientemente, no papel desdobrado na madeira carinhosa da mesa. A obra de arte era burilada interminavelmente.
Imaginem Vieira escrevendo, à luz da vela, cuidando para a pena de um bípede, o animal mais semelhante ao homem, porque se sustém sobre duas pernas e carrega uma cabeça pequena, de idéias, sobre a cabeça, cuidando para que a dor não respingue tinta no papel precioso, parando com a mão no ar e repetindo dezenas de vezes a frase que gravaria, repetindo até que soasse bem, com musicalidade, com harmonia de sons e idéias, dizendo exatamente o que pretenderia dizer, repetindo até a exaustão, tanto que, quando chegasse ao final do longuíssimo sermão, soubesse-o de cor, como o diria no púlpito.
Imaginem Agostinho escrevendo, nos estertores da Antiguidade, final do século IV, início do V, sob as espadas dos bárbaros destruindo os templos de Deus ou do saber, da palavra, considerada um ser vivo, de tão poderosa. Não ficava pedra sobre pedra do Império Romano, mas ficaria a obra que ele laboriosamente levantava com a pena – nem de ganso nem de pato! Imaginem escrever quando não havia sido inventada a tinta nem o papel e o escritor tinha que sofrer o martírio de esculpir a palavra mentalmente horas e horas antes de esculpi-la no pergaminho que se desenrolava gemendo sob seus dedos hábeis.
Dizem que Agostinho escreveu trezentas e trinta e duas obras, dizem outros que foram mais de mil e quinhentas, mas, em qualquer caso, escreveu muito mais e bem do que a maioria dos escritores, num idioma rude como o dos romanos, mas tornando-o maleável, apto à perquirição filosófica, e poético, porque se encantava com as palavras e com a beleza do que dizia.
Como um pobre escrevinhador de hoje se sairia dessa empreitada colossal, acima das forças humanas, que era escrever? Escreveríamos? Acomodados à facilidade do computador, conseguiríamos desenvolver essa habilidade tão primária que parece estarmos pela primeira vez na história formulando uma frase, gravando-a de forma que transmita uma idéia, torne-a viva, e que as suas palavras soem com beleza, como se para esse encantamento fossem feitas?
Tornou-se tão sofisticado e artificial escrever, que só mesmo lembrando as lavadeiras de Graciliano. Um viva à simplicidade do mestre, que busca na natureza as suas imagens, as suas parábolas. A comparação com as lavadeiras vale por uma parábola.
Fizesse o escritor com sua página escrita o que faz a lavadeira com a roupa suja à beira do riacho, que molha e torce, e novamente molha e torce, coloca anil, ensaboa, para de novo torcer e torcer, e, enfim, enxaguar, dar mais uma molhada, tirar a água excedente com a mão, surrar com raiva na laje, torcer novamente duas e três e mais vezes, até não pingar do pano uma só gota. Somente então pendura a roupa lavada para secar ao sol, sabendo que, por um acaso freqüente, uma sujeira de um bicho, da própria água, do vento, de uma distração, poderia levá-la a repetir toda a operação.
Acrescentei esse final, a parte que leva a repetir a operação, não para corrigir o mestre, que sabia disso, mas para alertar os leitores de que um texto muitas vezes sai falho, uma pequena sujeira pode levar os escritor a reescrever o texto – como a lavadeira a lavar novamente a roupa se descobriu uma pequena imperfeição.
E por fim a última lição do mestre: a palavra não foi feita para brilhar, mas para dizer. Amo a beleza da palavra, mas a sua função é, antes de tudo, dizer. Está bonito o texto, portanto bom? A beleza é enganosa, temos que nos lembrar de que o homem criou a palavra porque precisava dizer alguma coisa. O texto é belo e coerente com o quero dizer? Esta deve ser a questão.
Há quem pense que escrever é fácil. Vá lavar roupa na beira do rio para ver se é fácil."

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Envenenamento literário
























Que dia tedioso, hoje! Chuva fina deste o raiar do sol (!). Já que um amigo, outro dia, me enviou um conto de Gabo, decidi postar aqui um trechinho para esta chuvosa véspera deste feriadão, depois, quem sabe, eu continue postando o  restante. Sei, sei é muito pouco, mas são com doses pequenas que matamos sem que se apercebam do ato criminoso. (rsrsrsrs):

A Mulher que chegava às Seis

Por Gabriel García Márquez

"A porta oscilante se abriu. A essa hora não havia ninguém no restaurante de José. Acabavam de dar seis horas e o homem sabia que só às seis e meia começariam a chegar os fregueses habituais. Tão conservadora e regular era sua clientela, que não havia o relógio acabado de bater a sexta badalada quando entrou uma mulher, como fazia todos os dias à mesma hora, e se sentou sem dizer nada na alta cadeira giratória. Comprimindo entre os lábios, um cigarro apagado.

- Olá rainha – disse José quando a viu sentar-se.

Logo caminhou para o outro extremo do balcão. Limpando com uma rodilha seca a superfície envidraçada. José sempre agia dessa maneira à entrada de alguém no restaurante. Mesmo com a mulher, com quem chegara a adquirir certo grau de intimidade, o gordo e corado dono do restaurante representava sua habitual comédia de homem diligente. De onde se encontrava, falou:

- Que queres hoje? – disse.

- Antes de mais nada quero te ensinar a ser cavalheiro – disse a mulher. Ela estava sentada no final da fileira de cadeiras giratórias, de cotovelo sobre o balcão, com o cigarro apagado nos lábios. Ao falar,  comprimiu a boca como a chamar a atenção de José para o cigarro.

- Não me havia dado conta – disse José.

- Não te deste conta de nada, todavia – disse a Mulher."

(...)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Por que e de quê as hienas riem?

















 Humanos de meu planeta, acabei subtrair do blog de Luiz Carlos Azenha, Viomundo, este belo e equilibrado texto de Leandro Fortes, mostrando que, o que estamos vendo, ou que acabamos de ver na panaceia suprema da justiça maior de nosso Brasil, deve-se ou deveu-se as iniciativas republicanas de Luís Inácio da Silva. Ou seja, se não fosse a sua veia republicana, indicando a maioria dos juízes que iriam condenar seus companheiros (Dirceu, Genuíno, Delúbio etc.), hoje, poderíamos estar vendo nesse julgamento o mesmo filme estrelado por Fernando Henrique Cardoso, que, ao contrário de Lula, mandou engavetar todos os malfeitos de seus dois mandatos, além, é claro, de comprar os votos para se reeleger.
Aproveitem.

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A direita que ri extasiada
publicado em 10 de outubro de 2012 às 11:57
por Leandro Fortes, em CartaCapital

Tenho acompanhado nas redes sociais, desde cedo, e sem surpresa alguma, o êxtase subliterário de toda essa gente de direita que comemora a condenação de José Dirceu como um grande passo civilizatório da sociedade e do Judiciário brasileiro. Em muitos casos, essa exaltação beira a histeria ideológica, em outros, nada mais é do que uma possibilidade pessoal, física e moral, de se vingar desses tantos anos de ostracismo político imposto pelas sucessivas administrações do PT em nível federal. Não ganharam nada, não têm nada a comemorar, na verdade, mas se satisfazem com a desgraça do inimigo, tanto e de tal forma que nem percebem que todas essas graças vieram – só podiam vir – do mesmo sistema político que abominam, rejeitam e, por extensão, pretendem extinguir. José Dirceu, como os demais condenados, foi tragado por uma circunstância criada exclusivamente pelo PT, a partir da posse de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, data de reinauguração do Brasil como nação e república, propriamente dita. Uma das primeiras decisões de Lula foi a de dar caráter republicano à Polícia Federal, depois de anos nos quais a corporação, sobretudo durante o governo Fernando Henrique Cardoso, esteve reduzida ao papel de milícia de governo. Foi esta Polícia Federal, prestigiada e profissionalizada, que investigou o dito mensalão do PT. Responsável pela denúncia na Procuradoria Geral da República, o ex-procurador-geral Antonio Fernando de Souza jamais teria chegado ao cargo no governo FHC. Foi Lula, do PT, que decidiu respeitar a vontade da maioria dos integrantes do Ministério Público Federal – cada vez mais uma tropa da elite branca e conservadora do País – e nomear o primeiro da lista montada pelos pares, em eleições internas. Na vez dos tucanos, por oito anos, FHC manteve na PGR o procurador Geraldo Brindeiro, de triste memória, eternizado pela alcunha de “engavetador-geral” por ter se submetido à missão humilhante e subalterna de arquivar toda e qualquer investigação que tocasse nas franjas do Executivo, a seu tempo. Aí incluída a compra de votos no Congresso Nacional, em 1998, para a reeleição de Fernando Henrique. Se hoje o procurador-geral Roberto Gurgel passeia em pesada desenvoltura pela mídia, a esbanjar trejeitos e opiniões temerárias, o faz por causa da mesma circunstância de Antonio Fernando. Gurgel, assim como seu antecessor, foi tutelado por uma política republicana do PT. Dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, seis foram indicados por Lula, dois por Dilma Rousseff. A condenação de José Dirceu e demais acusados emanou da maioria destes ministros. Lula poderia, mas não quis, ter feito do STF um aparelho petista de alto nível, imensamente manipulável e pronto para absolver qualquer um ligado à máquina do partido. Podia, como FHC, ter deixado ao País uma triste herança como a da nomeação de Gilmar Mendes. Mas não fez. Indicou, por um misto de retidão e ingenuidade, os algozes de seus companheiros. Joaquim Barbosa, o irascível relator do mensalão, o “menino pobre que mudou o Brasil”, não teria chegado a lugar nenhum, muito menos, alegremente, à capa de um panfleto de subjornalismo de extrema-direita, se não fosse Lula, o único e verdadeiro menino pobre que mudou a realidade brasileira. O fato é que José Dirceu foi condenado sem provas. Por isso, ao invés de ficar cacarejando ódio e ressentimento nas redes sociais, a direita nacional deveria projetar minimamente para o futuro as consequências dessas jurisprudências de ocasião. Jurisprudências nascidas neste Supremo visivelmente refém da opinião publicada por uma mídia tão velha quanto ultrapassada. Toda essa ladainha sobre a teoria do domínio do fato e de sentenças baseadas em impressões pessoais tende a se voltar, inexoravelmente, contra o Estado de Direito e as garantias individuais de todos os brasileiros. É esperar para ver. As comemorações pela desgraça de Dirceu podem elevar umas tantas alminhas caricatas ao paraíso provisório da mesquinharia política. Mas vem aí o mensalão mineiro, do PSDB, origem de todo o mal, embora, assim como o mensalão do PT, não tenha sido mensalão algum, mas um esquema bandido de financiamento de campanha e distribuição de sobras. Eu quero só ver se esse clima de festim diabólico vai ser mantido quando for a vez do inefável Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas Gerais e ex-presidente do PSDB, subir a esse patíbulo de novas jurisprudências montado apenas para agradar a audiência.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

domingo, 7 de outubro de 2012

Bregando alto!

*************************** Gente, depois dessa eleição e do resultado, só me resta bregar alto!Puts!

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Quanto melhor pior vai ficando






















Seres de Deus, vejam que discussão boa dá esta crônica de Menalton que surrupiei da revista Carta Capital. Então, vamos lá! Peguem um copinho com qualquer líquido do tipo que passarinho (leite não vale!) não bebe, e mãos à obra, ou melhor, bocas à obra! Não vale briga com puxação de cabelos nem pontapés no saco!

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CARTA CAPITAL-Cultura
Crônica do Menalton
01.10.2012 10:55

O melhor é o pior
Menalton Braff 

Já lá vai um bom tempo em que convivemos com esta ideia: bom é o ruim. Ultimamente, contudo, a ideia vem-se tornando a tal ponto epidêmica que as vozes da oposição tornam-se cada vez mais tímidas, cochichadas entre amigos muito íntimos, à luz de velas e em salas completamente fechadas (não haja por aí alguma traição). São verdadeiros inconfidentes, os que ousam manter opinião contrária. Até mesmo aquela frase do Nelson Rodrigues “Toda unanimidade é burra”, citada à revelia e em qualquer circunstância, perdeu seu estatuto de afirmação inteligente. Pelo menos por uma questão de princípio você tinha de discordar, mas a discordância, no presente caso, caiu em desgraça.

Posso estar enganado, mas a ideia de que o melhor é o pior, pelo menos como agora me ocorre à lembrança, começou com a afirmação de que bom cantor é aquele que não tem voz. Fazia-se a revisão estética da música popular e os “vozeirões” incomodavam ainda. Alguém se lembra ainda do Vicente Celestino? Realmente, uma de suas canções ficou muito melhor na voz do Caetano Veloso (que tem voz, mas não vozeirão, você me entende?) A solução foi cair no extremo oposto.

O assunto foi-me sugerido por uma velha coluna de meu amigo Deonísio da Silva, esse catarinense que teria chegado a Papa não fosse sua vocação muito mais a salvação da alma com toda sua embalagem do que apenas essa entidade sem nada a envolvê-la. O Deonísio publicou no Observatório da Imprensa há muitos anos uma coluna em que, elegantemente, denuncia o espírito do “tanto faz”, um dos produtos derivados de “o bom é o ruim”. O Deonísio é um homem corajoso, porque não se submeteu à onda.

Em literatura, a bossa, é escrever mal. Em lugar de incluir os excluídos, vamos excluir os incluídos, que é mais fácil, e o resultado imediato é que fica tudo nivelado. Antigamente diríamos por baixo, mas a ideia de alto e baixo é uma geografização preconceituosa da estética, não é? Pelo menos foi isso que ouvi de uma pessoa que até tem algum trânsito no assunto.

Meu temor é o de que algumas pessoas não entendam que bom cantor é aquele que não tem voz e bom escritor, como disse o Deonísio, é aquele para quem a Regência Verbal foi abolida pela República. Sim, porque se elas não entenderem isso, que é elementar, como vão aceitar que bom engenheiro não pode conhecer cálculos nem materiais e bom médico não sabe de que lado fica o coração?

Aqui mesmo, em Ribeirão Preto, me contaram que uma professora universitária, vinda de outra cidade para um evento cultural, teria afirmado que “basta você abrir a boca e já está fazendo literatura”. Foi uma descoberta que me encheu de esperança. Seguindo ao pé da letra seu pensamento, cheguei à conclusão de que sou possuidor de uma fortuna. Se o “Cabeça de mulher”, de Picasso, foi vendido por dez milhões de dólares, por quantos milhões vou poder vender minha casa? Você não entendeu? Ora, o Fiúca, que pintou minha casa no ano passado, “abriu a boca” por uma superfície mil vezes maior do que aquela do pintor espanhol. Então, se tanto faz, tenho ou não razão para me encher de esperança? Tanto é pintor o Fiúca quanto o Pablo Picasso.

“Estão verdes estas uvas.” Muitas vezes, nestes últimos tempos, tenho-me lembrado dessa frase do Esopo que vem rolando invicta pelos séculos. Há muita raposa por aí procurando qualificação, porque, enfim, “o bom é o ruim”. E como diria meu amigo mineiro Edwaldo Arantes, citando expressão que em Minas serve pra tudo: “Às veis…”.