quinta-feira, 26 de abril de 2012

Finalmente, o Malvadeza vem aí!







Não faz muito tempo que eu prometi lançar o meu terceiro livro. Pois agora, finalmente, parece que ele vai sair. O projeto foi aprovado pela LMIC de Itajaí versão 2012. Se tudo correr como esperado, devo tê-lo prontinho, lá por volta da segunda quinzena de Agosto deste ano. Trata-se de uma novela- romance do gênero policial. Nele, tratei de assuntos bem recorrentes nos dias de hoje: violência urbana, crime organizado e corrupção policial.
A história gira em torno de um jovem morador de favela do Rio de Janeiro entre os anos 40 e 50 do século passado, chamado Hélcio Lima que, não vendo respostas das autoridades a morte de seu irmão, decide fazer justiça com as próprias mãos. Sua vingança o transformará em Malvadeza Durão, o bandido mais procurado do Rio de Janeiro.
Então, inté Agosto!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Um continho conhecido, só para variar.


UM CONTO QUASE ERÓTICO

Na sala... As pernas arqueadas; uma aparente rigidez, apesar do passar dos anos e do uso. Ela senta devagar... Um gemido... Os dois caem! Mulher e cadeira.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

23/04 - Salve Jorge!





















“Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.

Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.

Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meus inimigos.

Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.

São Jorge Rogai por Nós.”

domingo, 22 de abril de 2012

Descendo ao fundo!

Pessoal, aqui vai uma matéria que vale a pena ler e repensar o que estamos lendo na grande mídia todos os dias. Para mim não passa de lixo! 

 

Uma CPI para a revista Veja

Enviado por luisnassif, dom, 22/04/2012 - 08:00
Coluna Econômica - 22/04/2012
O delegado Paulo Lacerda tinha tudo para ser um ícone do funcionalismo público. Funcionário exemplar, foi responsável pela transformação da Polícia Federal em uma organização eficiente e peça chave na luta contra a corrupção e o crime organizado.
A virada da PF foi o primeiro alento, para o cidadão comum, de que o crime organizado poderia ser combatido de forma eficiente pelo Estado.
Nomeado para a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), estava pronto a repetir o trabalho na PF e a dotar o Sistema Brasileiro de Inteligência (o SISBIN, a coordenação das diversas agências públicas no combate ao crime organizado) em uma organização exemplar.
Em 2007, junto com o general Félix, Ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) visitou os Estados Unidos atrás de modelos de atuação contra o terrorismo e o crime organizado, remodelado após os atentados de 11 de setembro.
Visitaram o Departamento de Defesa, a CIA, o Tesouro, o FBI e um novo órgão, o Departamento Nacional de Inteligência, criado justamente para supervisionar a ação dos demais e integrar as investigações.
Havia a necessidade de um supervisor similar no Brasil, capaz de coordenar as informações provindas da PF, da Receita, Banco Central, COAF, INSS etc. Como a ABIN é um órgão de inteligência,
Decidiram criar um Departamento de Integração do SISBIN dentro da Agência. Reformou-se um anexo da ABIN, instituíram-se concursos que trouxeram novos funcionários, de alto nível, definiu-se uma política de cargos e salários.
O DI ficou em um andar inteiro. Havia um imenso corredor, com um conjunto de salas, cada qual destinada a um órgão da SISBIN. Não havia ingerência da ABIN. Cada órgão indicava um funcionário para trabalhar seu banco de dados, sem obrigação de passar os dados para o grupo.
No fim do corredor, uma sala onde haveria reuniões diárias de todos para analisar as demandas e definir as estratégias de combate ao crime organizado.
Estava tudo pronto para começar, quando estourou a Satiagraha. E aí, uma ação conjunta de Daniel Dantas, da revista Veja, do então presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes e do Ministro da Defesa Nelson Jobim, destruiu o trabalho e atrasou em anos o avanço da luta contra o crime organizado.
Primeiro, foi a história do “grampo sem áudio” – o telefonema supostamente gravado entre Gilmar Mendes e o lugar-tenente do bicheiro Carlinhos Cachoeira, senador Demóstenes Torres -, repercutido com exclusividade pela Veja.
Depois – mais grave ainda – o falso alarme do STF de que teria havido escuta no órgão. Com base em um relatório que tecnicamente não comprovava escuta, homens de confiança de Gilmar abasteceram a revista – sempre a Veja - com falsas denúncias.
O terceiro tiro foi dado por Jobim que, com base em uma lista falsa, acusou a ABIN de dispor de equipamentos de escuta. A denúncia, mais uma vez, arquitetada com a Veja.
A soma de pressões obrigou ao afastamento de Paulo Lacerda e sua aposentadoria do serviço público.
Nesse período, a revista se aliou a dois esquemas barra-pesadas, o do Banco Opportunity e o de Carlinhos Cachoeira.
A CPI será uma boa oportunidade de passar essas histórias a limpo.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Será mesmo o fim?















Pessoal, vejam que artigo interessante que extrai do Digestivo Cultural sobre a sobrevivência ou o desaparecimento do livro (impresso, é claro), escrito por Marta Barcellos, colunista.

O fim do livro, não do mundo
Do Digestivo Cultural – Sexta, 20/04/2012
Por Marta Barcellos
As notícias nos dão conta: já vivemos a nostalgia do livro. Observe que, quando escrevo aqui a palavra livro, antecedida da palavra nostalgia, uma imagem robusta apossa-se da mente dos leitores digitais que me acompanham: um tomo considerável, talvez clássico da literatura de ficção, um romance daqueles que espelhava, provocava e civilizava o mundo nos bons tempos, graças ao dom de um autor genial e infelizmente sem antecessores na contemporaneidade.
Pois é, o mundo não é mais assim. O tal autor partiu-se em muitos, vozes se espalham por toda parte, em todo tipo de mídia e de linguagem, e o livro de papel — com a experiência de profundidade e fabulação que ele representa — de fato está em perigo. Como leitora que teve a emoção e o conhecimento forjados por volumes assim, também me lamento. E fico feliz por minha filha de 12 anos ainda ter conhecido esta era, mesmo que atracada aos Jogos Vorazes de sua geração. Não, ela não está lendo Dostoievski aos 12 anos, como muitos literatos experimentaram, mas pelos seus relatos entusiasmados tento imaginar que o best seller do momento é uma espécie de 1984, com uma crítica extra aos reality shows. A seu jeito, quem sabe, um dos últimos clássicos do papel.
Terei a oportunidade de acompanhar de perto como será a evolução (?) de sua leitura nos próximos anos, a transformação de uma geração em transição: observar quando passará aos leitores digitais, se fará isso em relação a todas as suas leituras, de que forma se dividirá entre os dois suportes, se a lembrança da pré-adolescência acompanhada por coleções como Harry Potter e Jogos Vorazes também fará dela uma nostálgica, quem sabe garantindo uma sobrevida ao papel além da nossa geração.
Mas a ideia aqui não é engrossar o coro de futurólogos com seus palpites certeiros sobre a dimensão e as características da migração da nossa leitura para formatos digitais. Particularmente, tenho pensado que o sentido de permanência, próprio das letras impressas em papel, lhe garantirão ao menos um nicho de mercado, nem que seja a la vinil. Não faço apostas, no entanto. Vai que a valorização do permanente está mais para característica individual do que humana ou geracional...
Meu intento é mostrar que o fim do livro, como o conhecemos naquela imagem lá em cima deste texto digital (texto que pode ser alterado por mim a qualquer momento), não será o fim do mundo nem da humanidade. Será (ou melhor, já está sendo) sucedido por outras formas de transmissão de conhecimento e de valores. Como acontece quando uma geração julga a anterior, não temos o distanciamento necessário para avaliar o que se perde e o que se ganha — e talvez o exercício de contabilizar perdas, como se tem feito insistentemente, tenha pouca serventia neste momento.
Estas reflexões me vieram ao ler um ensaio do professor João Cezar de Castro, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), questionando a propalada crise da crítica literária, e, por tabela, da própria literatura. Em um passeio pela história, Castro mostra os temores, entre intelectuais e filósofos de certa época, gerados pela difusão de uma nova tecnologia: a do livro.
Não por acaso, ele encontra um primeiro vestígio do problema em um romance de Victor Hugo ambientado em 1482, Notre-Dame de Paris. O personagem Dom Claude compara a novidade do livro impresso com a Catedral: "Infelizmente! - disse -, isto matará aquilo". Ou seja, o livro destruiria o edifício; a imprensa superaria a arquitetura. Antes havia a cátedra e o manuscrito, agora a palavra falada e a palavra escrita se alarmavam com a palavra impressa.
Mas foi quando o livro se tornou objeto cotidiano que a tradição na transmissão de conhecimento e de valores se viu de fato ameaçada: "Receio que a abundância e o baixo preço [do livro] terminem por fazer com que fiquemos mais negligentes", proferiu em 1708 o filósofo italiano Giambattista Vico, em discurso inaugural da Universidade de Nápoles. A preocupação era de que difusão de textos impressos tornasse negligente o corpo discente das universidades.
"Os alunos preguiçosos prevalecerão, pois, tanto tendem a descuidar da aprendizagem oral, quanto da formação letrada. De um lado, faltam às aulas, já que o conteúdo das mesmas se encontra nos livros. De outro, negligenciam a leitura, porque podem aprender de oitiva". Se trocarmos a palavra "livros" por "internet", observa Castro, teremos uma reclamação bem atual dos professores, e no entanto a afirmação acima foi feita pelo filósofo alemão Johann Gottlieb Fichte em 1807.
Antes de concluirmos nossa viagem ao passado, é importante ressaltar aonde não se quer chegar: não se trata de igualar as novas tecnologias para mostrar que todas encontraram resistências por parte dos conservadores. Para além desta banalidade está o fato de que grandes inovações — como o livro e o fim de seu formato original — não devem ser reduzidas a uma análise de retrocessos e avanços imediatos.
Por exemplo: no caso da universidade ameaçada pelo livro ("A verdadeira universidade de nossos dias é uma biblioteca", afirmou em 1840 o historiador escocês Thomas Carlyle), foi necessário desenvolver um novo sistema universitário, e chegou-se desta forma à associação entre ensino e pesquisa, na qual se produz um conhecimento novo. "Ou seja, que ainda não se encontra em livro algum!", diz Castro. Foi assim que se construiu o modelo da universidade moderna.
Obviamente, hoje, transformações já estão em curso. A perda da centralidade da literatura no mundo atual (no Brasil semialfabetizado, chegou a ter papel central?) ocorre no momento em que surge a internet. O mundo não cairá na barbárie, caso a literatura como a entendemos atualmente perca de vez a importância na formação humana. E o que será da literatura, seus autores e leitores apaixonados? "O caráter marginal da literatura assegura a criadores, críticos e teóricos uma liberdade inédita, cujo aproveitamento exige a recusa de posições nostálgicas ou ressentidas", diz Castro. Festejemos a marginalidade.

domingo, 15 de abril de 2012

Padrões duvidosos!

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Extraido do blog Vi o Mundo do jornalista Luiz Carlos Azenha:
 
15 de abril de 2012 às 1:18

Reflexões antecipadas de Perseu Abramo sobre os dias de hoje

por Perseu Abramo, no livro Padrões de Manipulação da Grande Imprensa

A relação entre a imprensa e a realidade é parecida com aquela entre um espelho deformado e um objeto que ele aparentemente reflete: a imagem do espelho tem algo a ver com o objeto, mas não só não é o objeto como também não é sua imagem; é a imagem de outro objeto que não corresponde ao objeto real.

Assim, o público — a sociedade — é cotidiana e sistematicamente colocado diante de uma realidade artificialmente criada pela imprensa e que se contradiz, se contrapõe e frequentemente se superpõe e domina a realidade real que ele vive e conhece.
Como o público é fragmentado no leitor ou no telespectador individual, ele só percebe a contradição quando se trata da infinitesimal parcela de realidade da qual ele é protagonista, testemunha ou agente direto, e que, portanto, conhece. A imensa parte da realidade, ele a capta por meio da imagem artificial e irreal da realidade que ele não percebe diretamente, mas aprende por conhecimento.

Daí que cada leitor tem, para si, uma imagem da realidade que na sua totalidadee não é real. É diferente e até antagonicamente oposta à realidade. A maior parte dos indivíduos, portanto, move-se num mundo que não existe, e que foi artificialmente criado para ele justamente a fim de que ele se mova nesse mundo irreal.

A manipulação das informações se transforma, assim, em manipulação da realidade.
[Nota do Viomundo: Perseu escreveu isso antes dos bilhões de vasos comunicantes desconcentrados da blogosfera, que deu aos leitores a oportunidade de trocar opiniões e críticas sobre o conteúdo]

*****

Os padrões de manipulação

[...]

3.3. Inversão da versão pelo fato: não é o fato em si que passa a importar, mas a versão que dele tem o órgão de imprensa, seja essa versão originada no próprio órgão de imprensa, seja adotada ou aceita de alguém — da fonte das declarações e opiniões.
O órgão de imprensa praticamente renuncia a observar e expor os fatos mais triviais do mundo natural ou social e prefere, em lugar essa simples operação, apresentar as declarações, suas ou alheias, sobre esses fatos. Frequentemente, sustenta as versões mesmo quando os fatos as contradizem. Muitas vezes, prefere engendrar versões e explicações opiniáticas cada vez mais complicadas e nebulosas a render-se à evidência dos fatos. Tudo se passa como se órgão de imprensa agisse sob o domínio de um princípio que dissesse: se o fato não corresponde à minha versão, deve haver algo de errado com o fato.

[...]

3.4. Inversão da opinião pela informação. A utilização sistemática e abusiva de todos esses padrões de manipulação leva quase inevitavelmente a outro padrão: o de substituir, inteira ou parcialmente, a informação pela opinião. Deve-se destacar que não se trata de dizer que, além da informação o órgão de imprensa apresenta também a opinião, o que seria justo, louvável e desejável, mas sim que o órgão de imprensa apresenta a opinião no lugar da informação, e com o agravante de fazer passar a opinião pela informação. O juízo de valor é inescrupulosamente utilizado como se fosse a própria mera exposição narrativa/descritiva da realidade. O leitor/espectador já não tem mais diante de si a coisa tal como existe ou acontece, mas sim uma determinada valorização que o órgão quer que ele tenha de uma coisa que ele desconhece, porque o seu conhecimento lhe foi oculto, negado e escamoteado pelo órgão.

Essa inversão é operada pela negação, total ou quase total, da distinção entre juízo de valor e juízo de realidade, entre o que já se chamou de “gêneros jornalísticos”, ou seja, de um lado a notícia, a reportagem, a entrevista, a cobertura, o noticiário e, de outro, o editorial, o artigo, formas de apreensão e compreensão do real que, coexistentes numa mesma edição ou programação, se completavam entre si e ofereciam ao leitor alternativas de formar sua (do leitor) opinião, de maneira autônoma e independente.
Hoje, exatamente ao contrário, o fato é apresentado ao leitor arbitrariamente escolhido dentro da realidade, fragmentado no seu interior, com seus aspectos correspondentes selecionados e descontextualizados, reordenados inadvertidamente quanto a sua relevância, seu papel e seu significado, e, ainda mais, tendo suas partes reais substituídas por versões opiniáticas dessa mesma realidade. Ao leitor/espectador, assim, não é dada qualquer oportunidade que não a de consumir, introjetar e adotar como critério de ação a opinião que lhe é autoritariamente imposta sem que lhe sejam igualmente dados os meios de distinguir ou verificar a distinção entre informação e opinião.

PS do Viomundo: Rapaz, eu juraria que o Perseu escreveu isso neste fim-de-semana, depois de ler certa revista…

quarta-feira, 11 de abril de 2012

100 anos e Nelson continua ainda chocante!














Gente, resolvi homenagear um conterrâneo que este ano faria 100 anos. Ele se destacou no cenário jornalístico brasileiro e na dramaturgia de nosso país com obras primas e muita polêmica; foram crônicas, comentários, programas de rádio, peças teatrais que levaram a sua assinatura. Nelson Rodrigues. Aqui vai um de seus pensamentos:

“ Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinência. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos.”

Nelson Rodrigues (1912 - 1980)

terça-feira, 3 de abril de 2012

O caso do galinheiro verde e amarelo

 

 

O caso Demóstenes Torres e as raposas no galinheiro

Por Maria Inês Nassif para Carta Maior


O rumoroso caso Demóstenes Torres é uma chance única de reavaliar o que foi a política brasileira na última década, e de como ela – venal, hipócrita e manipuladora – foi viabilizada por um estilo de cobertura política irresponsável, manipuladora e, em alguns casos, venal. E hipócrita também.
O rumoroso caso Demóstenes Torres (DEM-GO) não é apenas mais um caso de corrupção denunciado pelo Ministério Público. É uma chance única de reavaliar o que foi a política brasileira na última década, e de como ela – venal, hipócrita e manipuladora – foi viabilizada por um estilo de cobertura política irresponsável, manipuladora e, em alguns casos, venal. E hipócrita também.


Teoricamente, todos os jornais e jornalistas sabiam quem foram os arautos da moralidade por eles eleitos nos últimos anos: representantes da política tradicional, que fizeram suas carreiras políticas à base de dominação da política local, que ocuparam cargos de governos passados sem nenhuma honra, que construíram seus impérios políticos e suas riquezas pessoais com favores de Estado, que estabeleceram relações profícuas e férteis com setores do empresariado com interesses diretos em assuntos de governo.


Foram políticos com esse perfil os escolhidos pelos meios de comunicação para vigiar a lisura de governos. Botaram raposas no galinheiro.


Nesse período, algumas denúncias eram verdadeiras, outras, não. Mas os mecanismos de produção de sensos comuns foram acionados independentemente da realidade dos fatos. Demóstenes Torres, o amigo íntimo do bicheiro, tornou-se autoridade máxima em assuntos éticos. Produziu os escândalos que quis, divulgou-os com estardalhaço. Sem ir muito longe, basta lembrar a “denúncia” de grampo supostamente feita pelo Poder Executivo no gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, então presidente da mais alta Corte do país. Era inverossímil: jamais alguém ouviu a escuta supostamente feita de uma conversa telefônica entre Demóstenes, o amigo do bicheiro, e Mendes, o amigo de Demóstenes.


Os meios de comunicação receberam a suposta transcrição de um grampo, onde Demóstenes elogia o amigo Mendes, e Mendes elogia o amigo Demóstenes, e ambos se auto-elegem os guardiões da moralidade contra um governo ditatorial e corrupto. Contando a história depois de tanto tempo, e depois de tantos escândalos Demóstenes correndo por baixo da ponte, parece piada. Mas os meios de comunicação engoliram a estória sem precisar de água. O show midiático produzido em torno do episódio transformou uma ridícula encenação em verdade.


A estratégia do show midiático é conhecida desde os primórdios da imprensa. Joga-se uma notícia de forma sensacionalista (já dizia isso Antonio Gramsci, no início do século passado, atribuindo essa prática a uma “ imprensa marrom”), que é alimentada durante o período seguinte com novos pequenos fatos que não dizem nada, mas tornam-se um show à parte; são escolhidos personagens e lhes é conferida a credibilidade de oráculos, e cada frase de um deles é apresentada como prova da venalidade alheia. No final de uma explosão de pânico como essa, o consumo de uma tapioca torna-se crime contra o Estado, e é colocado no mesmo nível do que uma licitação fraudulenta. A mentira torna-se verdade pela repetição. E a verdade é o segredo que Demóstenes – aquele que decide, com seus amigos, quem vai ser o alvo da vez – não revela.


Convenha-se que, nos últimos anos, no mínimo ficou confusa a medida de gravidade dos fatos; no outro limite, tornou-se duvidosa a veracidade das denúncias. A participação da mídia na construção e destruição de reputações foi imensa. Demóstenes não seria Demóstenes se não tivesse tanto espaço para divulgação de suas armações. Os jornais, tevês e revistas não teriam construído um Demóstenes se não tivessem caído em todas as armadilhas construídas por ele para destruir inimigos, favorecer amigos ou chantagear governos. Os interesses econômicos e ideológicos da mídia construíram relações de cumplicidade onde a última coisa que contou foi a verdade.


Ao final dos fatos, constata-se, ao longo de um mandato de oito anos, mais um ano do segundo mandato, uma sólida relação entre Demóstenes e a mídia que, com ou sem consciência dos profissionais de imprensa, conseguiu curvar um país inteiro aos interesses de uma quadrilha sediada em Goiás.


Interesses da máfia dos jogos transitaram por esse esquema de poder. E os interesses abarcavam os mais variados negócios que se possa fazer com governos, parlamentos e Justiça: aprovação de leis, regras de licitação, empregos públicos, acompanhamento de ações no Judiciário. Por conta de um interesse político da grande mídia, o Brasil tornou-se refém de Demóstenes, do bicheiro e dos amigos de ambos no poder.


Não foi a mídia que desmascarou Demóstenes: a investigação sobre ele acontece há um bom tempo no âmbito da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Nesse meio tempo, os meios de comunicação foram reféns de um desconhecido personagem de Goiás, que se tornou em pouco tempo o porta-voz da moralidade. A criatura depõe contra seus criadores.


(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.