quarta-feira, 30 de julho de 2014

Vou te contar mais de cem!









































Gente, o meu e-book "Vou te Contar", uma coletânea de contos, atingiu mais de cem leituras até agora, no site do Widbook.com. Uma maravilha, não?

terça-feira, 29 de julho de 2014

A Palestina, também semita, hoje paga pelos crimes dos europeus contra os judeus ontem!















Pessoal, aqui vai um artigo lúcido e que acerta em cheio o cerne da questão sobre a guerra desigual no Oriente Médio, escrito pelo grande escritor uruguaio, Eduardo Galeano que peguei no blog de Luis Nassif:

Do Correio do Brasil

Pouca Palestina resta,pouco a pouco, Israel está apagando-a do mapa

Por Eduardo Galeano - de Montevidéu

As vítimas civis chamam-se danos colaterais, segundo o dicionário de outras guerras imperiais
Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem sequer respirar sem autorização. Têm perdido a sua pátria e as suas terras. Para justificar-se, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe álibis. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo os seus autores quer acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los.

Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem sequer respirar sem autorização. Têm perdido a sua pátria, as suas terras, a sua água, a sua liberdade, tudo. Nem sequer têm direito a eleger os seus governantes. Quando votam em quem não devem votar, são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se numa ratoeira sem saída, desde que o Hamas ganhou legitimamente as eleições em 2006. Algo parecido tinha ocorrido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador.

Banhados em sangue, os habitantes de El Salvador expiaram a sua má conduta e desde então viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem. São filhos da impotência os rockets caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desleixada pontaria sobre as terras que tinham sido palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à orla da loucura suicida, é a mãe das ameaças que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está a negar, desde há muitos anos, o direito à existência da Palestina. Já pouca Palestina resta. Pouco a pouco, Israel está a apagá-la do mapa.

Os colonos invadem, e, depois deles, os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam o despojo, em legítima defesa. Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma das suas guerras defensivas, Israel engoliu outro pedaço da Palestina, e os almoços continuam. O repasto justifica-se pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que geram os palestinos à espreita. Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, o que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, o que escarnece das leis internacionais, e é também o único país que tem legalizado a tortura de prisioneiros.

Quem lhe presenteou o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está a executar a matança em Gaza? O governo espanhol não pôde bombardear impunemente o País Basco para acabar com a ETA, nem o governo britânico pôde arrasar Irlanda para liquidar a IRA. Talvez a tragédia do Holocausto implique uma apólice de eterna impunidade? Ou essa luz verde vem da potência ‘manda chuva’ que tem em Israel o mais incondicional dos seus vassalos? O exército israelense, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe quem mata. Não mata por erro. Mata por horror. As vítimas civis chamam-se danos colaterais, segundo o dicionário de outras guerras imperiais.

Em Gaza, de cada dez danos colaterais, três são meninos. E somam milhares os mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está a ensaiar com êxito nesta operação de limpeza étnica. E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Por cada cem palestinos mortos, um israelita. Gente perigosa, adverte o outro bombardeamento, a cargo dos meios massivos de manipulação, que nos convidam a achar que uma vida israelense vale tanto como cem vidas palestinianas. E esses meios também nos convidam a achar que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.

A chamada comunidade internacional, existe? É algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos assumem quando fazem teatro? Ante a tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial destaca-se uma vez mais. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade. Ante a tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos.

A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama uma ou outra lágrima enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caça aos judeus foi sempre um costume europeu, mas desde há meio século essa dívida histórica está a ser cobrada dos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, antissemitas. Eles estão a pagar, em sangue, na pele, uma conta alheia.

Eduardo Galeano, é escritor e jornalista uruguaio.



sexta-feira, 11 de julho de 2014

Artigaço!

Pessoas, vejam que artigo maravilhoso este que me foi indicado pela minha amiga jornalista Mirian Arins, escrito por Davis Sena Filho e que subtraí do Brasil 247:

Copa, Merval, Casa Grande, Classe Média e Má Fé

DAVIS SENA FILHO
Merval Pereira, como intelectual, é uma farsa. A imprensa familiar é uma fraude. A Copa do Mundo foi um retumbante sucesso e mostrou ao mundo que os brasileiros são muito mais capazes do que pensam os inquilinos colonizados e subservientes da Casa Grande
"Da águia mansa me livre Deus. Da brava me livrarei eu". (Provérbio popular)
Então, vamos à pergunta que teima em não calar: o que a cidadania, a Nação, os trabalhadores e o povo brasileiro podem esperar das Organizações(?) Globo, de suas congêneres e de empregados como, por exemplo, um dos feitores da família Marinho, que atende pelo nome de Merval Pereira? Respondo, sem vacilar: nada vezes nada! E por que tanta resignação ou decepção? Informo-lhes: não estou decepcionado e muito menos resignado, apenas sei que, indubitavelmente, a mentira e a manipulação não são boas conselheiras e, por seu turno, não merecem atenção para serem consideradas.

Merval Pereira há dias faz oposição à Dilma Rousseff, no que concerne ao sucesso ou ao fracasso da Copa do Mundo. Se a Copa tivesse fracassado, Merval e seus "iguais" da imprensa de mercado diriam que os brasileiros e principalmente o Governo Trabalhista são incompetentes e como tais deveriam se colocar em seus lugares, ou seja, as arquibancadas destinadas aos inaptos, aos subalternos, aos subservientes e aos que nasceram para ver os países colonialistas brilharem, bem como se resignar com um pouco de centelha que por um acaso escapou da luz intensa das sociedades ricas em termos planetários.

É essa gente vira-lata e, por sua vez, de insofismável baixa estima que torceu e continua a torcer contra o Brasil, um País poderoso, cuja sociedade civil deveria espalhar ratoeiras em todos seus cantos e rincões para "matar" ratos, como os que empesteiam as redações da imprensa de negócios privados, que, alienígenas e apátridas, prejudicam o Brasil moralmente, economicamente e politicamente, como aconteceu antes e durante a Copa, bem como vai continuar a acontecer, com ênfase ainda maior, até as eleições de outubro deste ano, afinal o candidato da imprensa-empresa é o tucano do PSDB, senador Aécio Neves.

Considero inominável e indescritível o que imprensa corporativa travestida em partido político fez para que a Copa do Mundo no Brasil fracassasse mesmo sabendo que tal evento acontecido aqui a beneficiasse em bilhões de reais, como, por exemplo, ocorreu com a Globo, que, segundo o Governo, faturou por baixo R$ 1,5 bilhão. Trata-se de um empresariado tão reacionário e amante do retrocesso, que não se importa de sabotar e boicotar torneio internacional de tamanha envergadura para que seus interesses políticos e ideológicos sejam concretizados, a não importar, realmente, o preço pago por tal insanidade política.

É, de fato, uma gente kamikaze e que demonstrou não ter limites, o que a torna extremamente perigosa, inclusive para a estabilidade política e institucional do País. São empresários de históricos e origens golpistas, magnatas bilionários e que apostam, juntamente com seus empregados paus mandados, "no quanto pior, melhor". Agem assim porque são realmente divorciados do corpo social, pois vivem em um mundo à parte, que se hospeda no pico da pirâmide social em âmbito planetário.
São as águias deste planeta, e sabem disso. Por conseguinte, consideram-se fortes e poderosas o suficiente para enfrentar governos, tentar derrubá-los e muitas vezes conseguir alcançar tão vil intento, porque a meta é sabotar quaisquer tentativas de independência e autonomia levadas a cabo por governantes nacionalistas, populares e esquerdistas. Conspiram e participam de golpes de estado. Desestabilizam o estado institucional e rasgam constituições. No poder, retiram benefícios e direitos trabalhistas e sociais, e, indignos e mentirosos, os chamam de privilégios e gastos, quando a verdade é que os benefícios são direitos históricos conquistados com muita luta e até mesmo com derramamento de sangue.

A imprensa familiar brasileira é inescrupulosa e não mede conseqüências para angariar simpatias e, consequentemente, trazer para seu lado a classe média, que, já cansei de afirmar, é a classe que não é classe, mas é a principal consumidora dos produtos dos grupos midiáticos, bem como acredita que um dia vai integrar a casta dos ricos, que, espertamente, trabalham com o imaginário de uma classe média branca, tradicionalmente universitária e que ocupa os melhores empregos dos setores privado e público desde quando Dom João VI aportou na Bahia.

São os conhecidos coxinhas, que detestam o Brasil e replicam, disseminam e propagam os valores e os princípios das classes dominantes, essas, sim, grupos sociais definidos, pois donas e controladoras dos meios de produção, como o são os trabalhadores, donos que são da força de trabalho e que se organizam em sindicatos para negociarem ou combaterem seus patrões. A classe média não é classe, mas se torna aliada, como apêndice que é dos ricos e dessa forma se sente bem, a habitar seu imaginário com sonhos de consumo e de status, o que, irrefragavelmente, a torna cortesã daqueles que sempre vão lhes bater a porta na cara quando realizarem seus saraus e festas. Os rega-bofes, as comeizanas dos ricos.

A Casa Grande despreza a classe média e dela só quer o dinheiro para vender seus produtos, além de apoio político para eleger seus candidatos de direita ou ao menos desestabilizar líderes socialistas ou trabalhistas, como sempre ocorreu na história do Brasil e de diversos países da América Latina. Merval Pereira e seus "iguais" da imprensa corporativa atacaram a Copa diuturnamente durante sete anos. Contudo, a partir do início deste ano, recrudesceram suas críticas, como o fez o Jornal Nacional dos "âncoras" William Bonner e Patrícia Poeta. Intragável e desabonador o show de desprezo, de negatividade, de intolerância e de mentiras dessa gente que odeia o povo brasileiro e o Brasil como Nação.

Gente de cabeça colonizada, subserviente ao colonizador e capaz de tudo para que o Brasil não cresça, em todos os sentidos, porque sabedores que um País pequeno e com um povo subalterno aos seus interesses de classe assegura a manutenção de seus privilégios e benefícios. Prerrogativas e regalias que os levam ao olimpo da iniqüidade, do hedonismo e do niilismo — o triunvirato edificador do status quo, que tanto prezam em detrimento dos interesses do Brasil e do bem-estar de seu povo. Grande parcela da classe média abraçou tal triunvirato e nele se locupleta igual a suínos na lama. E, para completar, leem Merval Pereira e outras centenas de brucutus da palavra de essência direitista — conservadora.

O Globo e toda a imprensa burguesa é o golpe retratado na má-fé jornalística de Merval Pereira. A manipulação ideológica e intelectual dos fatos e dos acontecimentos. Trata-se da completa dissociação do jornalismo com o factual, o verdadeiro, o fato como acontece para que esses grupos de comunicação meramente econômicos possam ter seus caprichos realizados. Quando William Bonner, direto da bancada do Jornal Nacional, culpou a imprensa estrangeira pela negatividade, pelo baixo astral e pelo suposto caos que iria acontecer nos aeroportos e nas cidades que foram sedes dos jogos, realmente mais uma vez reafirmei que o Brasil tem a imprensa mais mentirosa, manipuladora, irresponsável e covarde do planeta.

A imprensa de negócios privados que não assume nada. Nem os seus próprios erros. A imprensa familiar de passado golpista e traidora de seus parceiros comerciais, a exemplo da Fifa. Cara de pau e matreira. Useira e vezeira em fugir da raia como o diabo foge da cruz, porque, volto a afirmar, não assume nada ou erro algum. Seus escribas-asseclas são um poço de contradições e tudo o que previram não aconteceu. Se fossem cartomantes morreriam de fome e se fossem adivinhões não conseguiram vislumbrar em qual rua e casa moram. São eles os fracassados, os incompetentes e o que dão pitaco sobre tudo e não entendem nada sobre coisa alguma.

Não é o Brasil que é incompetente. Ponto! Não é o Governo Trabalhista e os trabalhadores e técnicos brasileiros, que trabalharam duramente, que são incompetentes. Os obtusos com complexo de vira-lata e que apenas deitam falação, porque jamais ou em hipótese alguma colocam as mãos na massa, são os verdadeiros incompetentes. Falam, falam, falam e não fazem nada. Boicotam e sabotam, mas não constroem nada, a não ser o estado de beligerância e vilania em certos grupos políticos e sociais.

Merval Pereira, como intelectual, é uma farsa. A imprensa familiar é uma fraude. A má-fé é o combustível do jornalismo controlado pelos magnatas bilionários de imprensa. A Copa do Mundo no Brasil foi um retumbante sucesso e mostrou ao mundo, sem apelação, que os brasileiros são muito mais capazes e competentes do que pensam os inquilinos colonizados e subservientes da Casa Grande.

O que o sistema midiático privado de caráter golpista finge não saber, pois dissimula, é que o Brasil é um País onde se tem oportunidades e pode se viver bem. E foi exatamente que os gringos viram in loco, o que o desagradou. Incompetente é a "elite" que nunca conseguiu construir um País solidário, democrático, civilizado e a estar no poder há cinco séculos. Não conseguiu porque a Casa Grande tem índole escravocrata. Ela é selvagem, violenta, pois brutal. Não consegue se desvincular de sua memória e de sua alma perversas retratadas fidedignamente nas desigualdades regionais e sociais que ainda hoje causam prejuízos ao desenvolvimento do Brasil.

As "elites" deste País são inconvenientes à sobrevivência humana no que tange ao direito de respirar. E são entraves à civilidade, pois a instrumentalização de sua educação é tão ou mais superficial do que uma pequena arranhadura numa viga de concreto armado. Mas, se você consome o que os barões de mídias produzem sem questionar as informações veiculadas por suas empresas, o problema é seu. Ah, já ia esquecer: Vai ter Olimpíadas! É isso aí.

domingo, 6 de julho de 2014

Io sono con voi e non aprire! Catzo!





 
Olhem só, o jornalista Mino Carta e sua revista Carta Capital, decidiram apoiar a candidatura de Dilma a reeleição, por quê será? Claro, coerência e senso social, coisas que não existem nas hostes da direita onde estão Aécio e Dudu. 

Valeu "paisano"!

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Porque escolhemos Dilma Rouseff


Queiram ou não, Aécio Neves e Eduardo Campos serão tragados pelo apoio da mídia nativa e da chamada elite. Ou seja, da reação

por Mino Carta

Começa oficialmente a campanha eleitoral e CartaCapital define desde já a sua preferência em relação às candidaturas à Presidência da República: escolhemos a presidenta Dilma Rousseff para a reeleição.

Este é o momento certo para as definições, ainda mais porque falta chão a ser percorrido e o comprometimento imediato evita equívocos. Em contrapartida, estamos preparados para o costumeiro desempenho da mídia nativa, a alegar isenção e equidistância enquanto confirma o automatismo da escolha de sempre contra qualquer risco de mudança. Qual seria, antes de mais nada, o começo da obra de demolição da casa-grande e da senzala.

O apoio de CartaCapital à candidatura de Dilma Rousseff decorre exatamente da percepção de que o risco de uns é a esperança de outros. Algo novo se deu em 12 anos de um governo fustigado diária e ferozmente pelos porta-vozes da casa-grande, no combate que desfechou contra o monstruoso desequilíbrio social, a tolher o Brasil da conquista da maioridade.

CartaCapital respeita Aécio Neves e Eduardo Campos, personagens de relevo da política nacional. Permite-se observar, porém, que ambos estão destinados inexoravelmente a representar, mesmo à sua própria revelia, a pior direita, a reação na sua acepção mais trágica. A direita nas nossas latitudes transcende os padrões da contemporaneidade, é medieval. Aécio Neves e Eduardo Campos serão tragados pelo apoio da mídia e de uma pretensa elite, retrógrada e ignorante.

A operação funcionou a contento a bem da desejada imobilidade nas eleições de 1989, 1994 e 1998. A partir de 2002 foi como se o eleitorado tivesse entendido que o desequilíbrio social precipita a polarização cada vez mais nítida e, possivelmente, acirrada. Por este caminho, desde a primeira vitória de Lula, os pleitos ganham importância crescente na perspectiva do futuro.

CartaCapital não poupou críticas aos governos nascidos do contubérnio do PT com o PMDB. No caso do primeiro mandato de Dilma Rousseff, vale acentuar que a presidenta sofreu as consequências de uma crise econômica global, sem falar das injunções, até hoje inescapáveis, da governabilidade à brasileira, a forçar alianças incômodas, quando não daninhas. Feita a ressalva, o governo foi incompetente em termos de comunicação e, por causa de uma concepção às vezes precipitada da função presidencial, ineficaz no relacionamento com o Legislativo.

A equipe ministerial de Dilma, numerosa em excesso, apresenta lacunas mais evidentes do que aquela de Lula. Tirante alguns ministros de inegável valor, como Celso Amorim e Gilberto Carvalho, outros mostraram não merecer seus cargos com atuações desastradas ou nulas. A própria Copa, embora resulte em uma inesperada e extraordinária promoção do Brasil, foi precedida por graves falhas de organização e decisões obscuras e injustificadas (por que, por exemplo, 12 estádios?), de sorte a alimentar o pessimismo mais ou menos generalizado.

Críticas cabem, e tanto mais ao PT, que no poder portou-se como todos os demais partidos. Certo é que o empenho social do governo de Lula não arrefeceu com Dilma, e até avançou. Por isso, a esperança se estabelece é deste lado. Queiram, ou não, Aécio e Eduardo terão o pronto, maciço, às vezes delirante sustentáculo da reação, dos barões midiáticos e dos seus sabujos, e este custa caro


quarta-feira, 2 de julho de 2014

"Tons por detrás do rei de amarelo"



 


























Pessoal, vejam que artigo legal que eu surrupiei da sessão Colunas do Digestivo Cultural, para vocês:


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Quinta-feira, 26/6/2014

Tons por detrás do rei de amarelo

Por Eugenia Zerbini


Walnice Nogueira Galvão, professora emérita de teoria literária da Universidade de São Paulo, afirma que deveria ser assegurado às crianças uma dose de Edgar Allan Poe (1809-1849) logo na infância. Além de Poe, eu recomendaria também algumas doses de Jan Potocki (1761-1815), Gérard de Nérval (1808-1855), e Théophile Gautier (1811-1872). Em síntese, boas páginas de literatura fantástica que, além de nutrir a imaginação dos leitores para o resto da vida, preveniriam encantamentos com brilhos duvidosos. No caso, O Rei de Amarelo, de Robert Chambers (1865-1933), hoje incensado como uma das obras primas da literatura de fantasia (por que o adjetivo fantástico foi abolido?).

Foram publicadas quase simultaneamente (em março e abril respectivamente) duas traduções da obra: O símbolo amarelo (Curitiba, Arte e Letra) e O rei de amarelo (RJ,Intrínseca). Optei pela segunda. Logo me decepcionei, na leitura do primeiro conto, "O reparador de reputações". Sempre fui atraída pela ideia de um livro dentro de outro livro. Um livro ao quadrado, conceito caro aos apaixonados pela leitura, uma colorida matrioshka, com suas surpresas, uma dentro da outra. O que dizer, então, de um livro fazendo referencia a outro, que quando lido leva o leitor à loucura, como no caso em questão?

"Durante minha convalescência, comprei e li pela primeira vez O Rei de Amarelo. Lembro, depois de terminar o primeiro ato, que me ocorreu que era melhor parar por ali, Arremessei o volume a lareira, mas o livro bateu na grade protetora e caiu aberto no chão, iluminado pelas chamas. Se não tivesse visto de passagem as primeiras linhas do segundo ato, eu nunca teria terminado a leitura, mas, quando me levantei para pegá-lo, meus olhos grudaram na página aberta, e com um grito de horror, ou talvez tenha sido de alegria, tão pungente que o senti em cada nervo, afastei o objeto das brasas e voltei em silêncio e tremendo para meu quarto, onde o li e o reli, e chorei, e ri e estremeci com um terror que às vezes me assola. É isso que me incomoda, pois não consigo esquecer de Carcosa, onde as estrelas negras pendem dos céus; onde as sombras dos pensamentos dos homens se alongam ao entardecer, quando os sóis gêmeos mergulham no lago de Hali; e minha mente guardará para sempre a lembrança da Máscara Pálida".

Notável o recurso do autor da narrativa em localizá-la no ano de 1920, um quarto de século além da data de publicação do volume, 1895. Desagradável, porém, sentir que tudo soa como um eco de coisas já escritas - e muito bem escritas - anteriormente. Ambrose Bierce (1842- Circa 1914) é uma referência expressa nesse universo, por meio das citações a Carcosa - cidade imaginária - e a Hali, possivelmente um de seus habitantes. Por detrás da Máscara Pálida está a outra, mais colorida, a da Morte Rubra, do conto de Edgar Allan Poe. Que, por sinal, faz-se onipresente não apenas no tom empregado na narrativa, mas também nos detalhes. Por exemplo, a ação do personagem central, o Sr. Castaigne, inicia-se na Washington Square. Como se sabe, a praça coincide com a área de um dos antigos cemitérios da cidade, ativo até 1825. Não bastassem os 20 mil corpos que ali jazem, Washington Square está a uma quadra de uma das ex-residências de Poe (85 West 3rd Street, cuja fachada foi preservada, integrada no edifício da Faculdade de Direito da New York Universty). Mr. Castaigne, pois bem, conhece o Sr. Wilde (outro tijolo alheio no pastiche alinhavado por Chambers), que o coloca em contato com a história de uma dinastia imperial americana, cujos galhos da árvore genealógica alcançam Castaigne.

Tzvetan Todorov (1939 -), no clássico Introdução à literatura fantástica, afirma que o sujeito das narrativas do gênero quase sempre é alguém de cultura e com conhecimentos específicos (como médico, cientista, ou então arqueólogo, estudioso de simbologia ou de culturas antigas), espécie de plataforma para a ampliação dos elementos e da voz de autoridade que conferem credibilidade à história. Robert Chambers (1865-1933) teve a vida semelhante a um desses narradores. Nasceu no Brooklin (NY), de família de meios e tradição. Frequentou bons colégios, dedicando-se ao desenho e às belas artes. Em 1886, partiu para França, prosseguindo seus estudos de ilustração e pintura. Retorna aos Estados Unidos, em 1893, após casar-se com uma franco-americana, filha de diplomata. Abraça a carreira de ilustrador em prestigiadas publicações. Em 1895, publica o livro que irá deixar seu nome inscrito nas crônicas da literatura fantástica, O rei de amarelo. Não foi seu livro de estreia, uma vez que, em 1894, publicou In the quarter, escrito em Munique: uma história de amor, nos moldes da ópera La bohème, de Puccini (1858-1924), ou do filme Moulin Rouge.

Robert Chambers foi autor de uma centena de obras, incluindo livros infantis e o que se chama hoje de chick lit. Estes últimos renderam-lhe a alcunha de shopgirls Sheherazade e Balzac de boudoir. H.P. Lovercraft (1890-1937), em sua obra subtraiu alguns elementos de O rei de amarelo (o principal deles a quimérica Carcosa), o que não impediu de referir-se a Chambers, em Horror Sobrenatural na literatura como um daqueles titãs decaídos que, embora dotado de boa cabeça e formação, perderam o hábito de usá-las. Lovecraft, na realidade, apropriou-se não de idéias de Chambers, mas de Ambrose Bierce. Este último - jornalista e escritor norte-americano, desaparecido quando se juntava à Revolução Mexicana - sim, o verdadeiro criador de Carcosa.

Morando na França, Chambers teve acesso à vasta literatura fantástica cultivada naquele país, ao longo do século XIX, cuja origens remontam ao Manuscrito encontrado em Saragoça, do autor polonês Jean Potocki. Considerado o Mil e uma noites do ocidente, a obra foi escrita em francês, no século XVIII, e publicado na França nas primeiras décadas do século seguinte. Trata de uma série de histórias interligadas que mesclam duas misteriosas irmãs, casadas com um mesmo homem, grupos de ciganos, magia, cabala, um eremita com seu criado possuído pelo demônio. E, convenhamos, a sonoridade de Carcosa está mais perto do som da espanhola Saragoça do que de Carcassone, cidade ao sul da França a qual se atribui a inspiração de Bierce em sua criação. Além de Potocki, lia-se muito em Paris, na segunda metade do século XIX, os contos fantásticos Theophille Gautier, a quem Charles Baudelaire (1821-1867) dedicou suas Flores do Mal. As mulheres sobrenaturais dos contos de Chambers seguem o mesmo molde das personagens de Gautier, vide seus contos: Angéla, Jacintha, a própria morte apaixonada...

Outro poeta e escritor contemporâneo de Gautier, Gerard de Nérval - incluído pelo crítico Harold Bloom (1930 -) em sua lista objeto do Canone Ocidental - ,com seus contos reunidos em Les filles du feu dá vida a esses tipos femininos intrigantes. O curioso é que até no nome parece que Chambers copia seu inspirador: Sylvie, nome que aparece em várias histórias deste último também é o nome escolhido por Nérval, na construção do seu eterno feminino infernal.

Por fim, atendo-se à tradução,causa estranhamento a remissão às "colunas iônicas", já notada no conto de abertura. A edição aparentemente bem cuidada, deveria acertadamente descrever as colunas como jônicas. De modo instantâneo, assim em um estalar de dedos, O rei de amarelo voltou à moda por meio da série True Dectetive, como anunciado até na quarta capa da edição da editora Intrínseca. Comenta-se inclusive que o visual da série é derivado da obra de Chambers, como denotado na cena do primeiro crime, objeto de investigação durante a primeira temporada do seriado. Outra afirmação leviana. A mulher lívida, de farta cabeleira ruiva, amarrada nua em um tronco, com uma coroa feita de galhos corresponde tem mais a ver com o visual do pintores pré-rafaelitas do que com qualquer outra medida.


Eugenia Zerbini
São Paulo, 26/6/2014